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Surge Superman, o protetor dos inocentes! No momento em que a América e o mundo mais precisam, Superman, um herói vindo das estrelas e que se esconde sob a identidade do tímido repórter Clark Kent surge para combater as forças do mal!
"Enquanto isso, na banda desenhada...” é uma seção que traçar um paralelo entre o universo real e o mundo dos quadrinhos, analisando como as duas realidades afetam uma à outra, trazendo informação e estimulando a reflexão acerca dessa 9ª arte.
O Vilão que derrotou todos os heróis (Anos 50-70)
Na época da guerra fria e do combate ao comunismo, superman havia mudado bastante: Já não impunha mais sua vontade sobre a humanidade, enfrentava supervilões e agora podia voar. Era muito mais poderoso que sua versão da década passada, mas agora tinha uma fraqueza, a Kriptonita. Esse Superman já não matava, para que as histórias pudessem também ser lidas pelas crianças. Esse foi um período muito importante para a consolidação do personagem e sua mitologia. Os autores passaram a explorar mais e mais a herança kryptoniana do herói, forjando um vasta e complexo pano de fundo. Foi ainda nos anos 50 que a DC percebe o grande potencial comercial do Homem de Aço e passa a desenvolver novas revistas e personagens ligados ao herói (ou à sua versão adolescente), como a Legião dos Super-Heróis, Supergirl e Superwoman (que, ao contrário do que muitos pensariam, não é a versão adulta da Supergirl). Lois Lane e Jimmy Olsen passam a ter revistas próprias, com outras participações ligadas ao herói (Como Ben Turpin e os Novos Deuses) e aumentando ainda mais a lista de personagens derivados, direta ou indiretamente, do Superman. Também aumentam os sobreviventes da destruição de Krypton: Além de Kara Zor-El (Supergirl), ainda tínhamos a cidade engarrafada de Kandor, Krypto, o supercão e os criminosos da Zona Fantasma. Superman havia adquirido uma vasta e diferenciada “família”, e passou a aparecer em diversas revistas próprias, em participações especiais, além de dividir uma revista com Batman. Tudo parecia ir muito bem para o homem de aço, mas logo surgiria uma ameaça que nem o maior herói de todos podia superar: A censura do Governo dos Estados Unidos.
Os quadrinhos sofreram um grande revés na década de 50 quando o psicólogo Fredric Wertham, com seu livro “a Sedução do Inocente”, acabou conseguindo colocar o governo contra as histórias em quadrinhos. Numa história que parecia um roteiro típico de histórias de super-herói, o psicólogo levou o governo e os pais a acreditarem que os quadrinhos eram nocivos às crianças e levavam à delinqüência juvenil, o que forçou o governo a instituir o “Comics Code Authority”, que obrigava os quadrinhos a passarem por um uma série de rigorosas regras que limitavam consideravelmente os roteiristas. Foi algo semelhante ao que ocorreu à classe artística brasileira na época da ditadura, ou seja, nada que fosse “subversivo” (que parecesse pornográfico, que fosse violento, que insinuasse homossexualismo, entre outras coisas), ou seja; tudo o que os adultos gostavam de ler na época. E isso limitava os roteiristas porque eles viam sexo em qualquer coisa! Qualquer montanha era um símbolo fálico e qualquer dobra na roupa de uma personagem representava um órgão sexual feminino! Não foi fácil escrever ou desenhar quadrinhos nessa época.
O Comics Code sepultou diversas revistas em quadrinhos voltadas para o público adulto e redirecionou o mercado. A indústria dos quadrinhos foi caindo no ostracismo e ficando cada vez mais sem graça. Foi o fim dos quadrinhos como conhecíamos.
Apenas alguns comics continuaram sendo publicados adaptando-se e mudando o teor de suas histórias, que se tornaram assumidamente infantis. Superman sobreviveu à essa época, mas não sem devidas seqüelas; como todos os heróis da época, passou a encarar aventuras malucas e enfrentar vilões cada vez mais bizarros em histórias sem sentido. E nem vou falar sobre o que o Batman teve que passar... Se houve uma época em que o mal triunfou sobre os heróis, foi durante os anos 50 e, ironicamente, o maior Inimigo do Superman e de todos os outros heróis foi o justamente mundo real.
A DC Comics (detentora dos personagens mais populares e dos poucos que sobreviveram nesse período – Superman, Batman e Mulher-Maravilha) só começou a reagir na década seguinte, quando a trouxe de volta personagens antigos em versões repaginadas mais ligadas a Ficção Científica e dentro das regras do Comics Code, como Flash (Barry Allen), Lanterna Verde (Hal Jordan) e Gavião Negro (Katar Hol). Essa volta por cima deu origem à chamada Era de Prata dos Quadrinhos. Isso também trouxe o surgimento da Liga da Justiça como a nova super-equipe principal da DC, com Superman como membro regular. Mas isso causava um pequeno problema de continuidade: O Superman da Liga da Justiça era mais novo que aquele que Fundou a Sociedade da Justiça, além de ter atitudes diferentes.Como é que pode uma coisa dessa, porra? O que dizer dessa situação?
Para explicar essas diferenças significativas entre os heróis, foi decidido que o Superman que surgiu em 1938 e membro da Sociedade da Justiça era uma versão de outra Terra (a Terra-2 – cuja Gênese está ligada à história do Flash) e portanto mais velho, enquanto que a versão da “nossa” Terra e fundador da Liga da Justiça era o Superman da era de Prata (a versão repaginada nos anos 50). É engraçado analisar aqui que a mudança fez com que alterações no personagem o tornasse tão destoante de sua versão original que eles não eram mais compatíveis, dando origem à dois Supermen. Complicado? Você ainda não viu nada. Espere só até as matérias futuras...
A Seguir: O Homem de Aço em Julgamento! Será Superman na verdade, um vilão da Humanidade? Deve haver um Superman? Depois da próxima semana, a vida do nosso herói nunca mais será a mesma...
Surge Superman, o protetor dos inocentes! No momento em que a América e o mundo mais precisam, Superman, um herói vindo das estrelas e que se esconde sob a identidade do tímido repórter Clark Kent surge para combater as forças do mal!
"Enquanto isso, na banda desenhada...” é uma seção que traçar um paralelo entre o universo real e o mundo dos quadrinhos, analisando como as duas realidades afetam uma à outra, trazendo informação e estimulando a reflexão acerca dessa 9ª arte.
O Vilão que derrotou todos os heróis (Anos 50-70)
Na época da guerra fria e do combate ao comunismo, superman havia mudado bastante: Já não impunha mais sua vontade sobre a humanidade, enfrentava supervilões e agora podia voar. Era muito mais poderoso que sua versão da década passada, mas agora tinha uma fraqueza, a Kriptonita. Esse Superman já não matava, para que as histórias pudessem também ser lidas pelas crianças. Esse foi um período muito importante para a consolidação do personagem e sua mitologia. Os autores passaram a explorar mais e mais a herança kryptoniana do herói, forjando um vasta e complexo pano de fundo. Foi ainda nos anos 50 que a DC percebe o grande potencial comercial do Homem de Aço e passa a desenvolver novas revistas e personagens ligados ao herói (ou à sua versão adolescente), como a Legião dos Super-Heróis, Supergirl e Superwoman (que, ao contrário do que muitos pensariam, não é a versão adulta da Supergirl). Lois Lane e Jimmy Olsen passam a ter revistas próprias, com outras participações ligadas ao herói (Como Ben Turpin e os Novos Deuses) e aumentando ainda mais a lista de personagens derivados, direta ou indiretamente, do Superman. Também aumentam os sobreviventes da destruição de Krypton: Além de Kara Zor-El (Supergirl), ainda tínhamos a cidade engarrafada de Kandor, Krypto, o supercão e os criminosos da Zona Fantasma. Superman havia adquirido uma vasta e diferenciada “família”, e passou a aparecer em diversas revistas próprias, em participações especiais, além de dividir uma revista com Batman. Tudo parecia ir muito bem para o homem de aço, mas logo surgiria uma ameaça que nem o maior herói de todos podia superar: A censura do Governo dos Estados Unidos.
Os quadrinhos sofreram um grande revés na década de 50 quando o psicólogo Fredric Wertham, com seu livro “a Sedução do Inocente”, acabou conseguindo colocar o governo contra as histórias em quadrinhos. Numa história que parecia um roteiro típico de histórias de super-herói, o psicólogo levou o governo e os pais a acreditarem que os quadrinhos eram nocivos às crianças e levavam à delinqüência juvenil, o que forçou o governo a instituir o “Comics Code Authority”, que obrigava os quadrinhos a passarem por um uma série de rigorosas regras que limitavam consideravelmente os roteiristas. Foi algo semelhante ao que ocorreu à classe artística brasileira na época da ditadura, ou seja, nada que fosse “subversivo” (que parecesse pornográfico, que fosse violento, que insinuasse homossexualismo, entre outras coisas), ou seja; tudo o que os adultos gostavam de ler na época. E isso limitava os roteiristas porque eles viam sexo em qualquer coisa! Qualquer montanha era um símbolo fálico e qualquer dobra na roupa de uma personagem representava um órgão sexual feminino! Não foi fácil escrever ou desenhar quadrinhos nessa época.
O Comics Code sepultou diversas revistas em quadrinhos voltadas para o público adulto e redirecionou o mercado. A indústria dos quadrinhos foi caindo no ostracismo e ficando cada vez mais sem graça. Foi o fim dos quadrinhos como conhecíamos.
Apenas alguns comics continuaram sendo publicados adaptando-se e mudando o teor de suas histórias, que se tornaram assumidamente infantis. Superman sobreviveu à essa época, mas não sem devidas seqüelas; como todos os heróis da época, passou a encarar aventuras malucas e enfrentar vilões cada vez mais bizarros em histórias sem sentido. E nem vou falar sobre o que o Batman teve que passar... Se houve uma época em que o mal triunfou sobre os heróis, foi durante os anos 50 e, ironicamente, o maior Inimigo do Superman e de todos os outros heróis foi o justamente mundo real.
A DC Comics (detentora dos personagens mais populares e dos poucos que sobreviveram nesse período – Superman, Batman e Mulher-Maravilha) só começou a reagir na década seguinte, quando a trouxe de volta personagens antigos em versões repaginadas mais ligadas a Ficção Científica e dentro das regras do Comics Code, como Flash (Barry Allen), Lanterna Verde (Hal Jordan) e Gavião Negro (Katar Hol). Essa volta por cima deu origem à chamada Era de Prata dos Quadrinhos. Isso também trouxe o surgimento da Liga da Justiça como a nova super-equipe principal da DC, com Superman como membro regular. Mas isso causava um pequeno problema de continuidade: O Superman da Liga da Justiça era mais novo que aquele que Fundou a Sociedade da Justiça, além de ter atitudes diferentes.
Para explicar essas diferenças significativas entre os heróis, foi decidido que o Superman que surgiu em 1938 e membro da Sociedade da Justiça era uma versão de outra Terra (a Terra-2 – cuja Gênese está ligada à história do Flash) e portanto mais velho, enquanto que a versão da “nossa” Terra e fundador da Liga da Justiça era o Superman da era de Prata (a versão repaginada nos anos 50). É engraçado analisar aqui que a mudança fez com que alterações no personagem o tornasse tão destoante de sua versão original que eles não eram mais compatíveis, dando origem à dois Supermen. Complicado? Você ainda não viu nada. Espere só até as matérias futuras...
Epílogo: Curiosidades
- Em DC: A Nova Fronteira (Mini-Série escrita por Darwin Cooke em 2006 e adaptada para um Longa-Metragem em Animação), o autor explora, de forma metalingüística e de maneira magistral as dificuldades pelas quais os super-heróis passaram nos anos 50 devido à pressões do governo. Na história, os heróis foram obrigados a se aposentar, se não teriam de revelar suas identidades. Quem não revelasse, era considerado inimigo do governo. A história também é um marco por mostrar, sem retcons e apenas tomando como base a cronologia “real” do Universo DC, o início da era de prata e o surgimento da Liga da Justiça. Tudo dentro da continuidade que muitos autores detestam.
- O Comics Code Authority ainda existe, mas não exerce mais nenhum poder sobre os comics e se tornou uma instituição falida. Mas ainda está por aí...
- Vocês podem não saber, mas, por definição, o Superman atual não é o Superman original. Mas também não é o Superman da era de prata. Esse Superman é uma versão do Superman da Era de Prata “atualizado” (várias e varias vezes, pra falar a verdade), nunca lutou na segunda guerra, nunca fez parte da Sociedade da Justiça e muito menos porrava bandidos dizendo “papai ta bravo!” (se não entendeu, leia a parte 1 dessa matéria). O Superman “original”, o da Terra-2, “desapareceu” em Crise Nas Infinitas Terras nos anos 80 e só voltou a reaparecer recentemente na saga Crise Infinita, onde pereceu.
- Jimmy Olsen Superman’s Pal (calma! “pal” em inglês significa “amigo”, ‘camarada”, e não o que você está pensando), revista protagonizada pelo melhor amigo do Homem de Aço, era escrita pelo mestre dos quadrinhos (e principal colaborador da Marvel Comics, rival da DC) Jack Kibry, e só foi criada para o autor ter o que escrever. Na época, a DC contratou o roteirista apenas para tira-lo da Marvel. Como não tinha onde coloca-lo, tiveram a idéia de uma revista protagonizada pelo amigo do Superman. O que, no fim das contas, se provou uma ótima idéia, porque é parcialmente responsável por uma das maiores contribuições do Superman para o Universo DC: Os Novos Deuses.
- Existiram ao longo da história diversas pessoas que se chamaram “Superwoman”. Na Era de Prata, chegaram a existir 3 personagens com esse nome: Kristin Wells, uma descendente de Jimmy Olsen vinda do Futuro (que não tinha os mesmos poderes do Superman, apenas os reproduzia através de tecnologia do futuro), a Superwoman da Terra 3 (uma versão da Mulher Maravilha de outra realidade onde os heróis eram os vilões) e Lois Lane, que em mais de uma ocasião adquiriu poderes de formas diversas e assumiu temporariamente esse nome.
- Recentemente, uma nova Superwoman surgiu nas histórias da Supergirl.
- Em Portugal, a Mulher-Maravilha tem o nome de Supermulher.
A Seguir: O Homem de Aço em Julgamento! Será Superman na verdade, um vilão da Humanidade? Deve haver um Superman? Depois da próxima semana, a vida do nosso herói nunca mais será a mesma...
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