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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A Beira do Caminho


"Mantenha Distancia"



“Viver é como desenhar sem borracha”

Perder alguém que se ama é uma das piores dores, se não a pior, que podemos ter nessa vida passageira. Uma chaga que pode se espalhar por todo corpo, sangrar a alma e mudar alguém completamente por toda a vida. É como encontramos o caminhoneiro João, interpretado pelo ótimo ator João Miguel, um homem que tem uma perda terrível no seu passado que ecoa pelo seu presente o afastando de todos ao seu redor.

Esse casulo só é quebrado com a aparição de Duda, o estreante Vinicius Nascimento, que se esconde no seu caminhão depois de fugir de um orfanato. Inicialmente relutante em ajudar o garoto a encontrar o pai em São Paulo, João aos poucos vai se acostumando com a presença do menino e uma nova estrada parece surgir em seu caminho.

Pautado na obra do cantor Roberto Carlos - o próprio título do filme remetendo a canção Sentado a Beira do Caminho - de onde tira sua trilha sonora, belíssima por sinal, o filme de Breno Silveira (diretor de 2 Filhos de Francisco) trata de uma forma sensível os sentimentos de culpa do protagonista sobre a morte de um ente querido em contraponto a esperança do garoto em conhecer seu pai e escapar da tristeza da morte de sua mãe.

Apesar de o roteiro ser bem dentro da lógica de road movies, sem grandes surpresas e previsível até, as interpretações de João Miguel, Dira Paes e do garoto Vinicius  dão bem o tom emocional que as canções do intitulado Rei tem. Outro personagem comum ao filmes de estrada é a transitoriedade de quem vive como caminhoneiro. Seguindo todo dia por um caminho desconhecido, a merce da sorte, do perigo, conhecendo só para esquecer logo depois, a vida de um motorista de caminhão é não se prender a nada enquanto segue seu rumo e ter a saudade como companheira. Curioso a música Caminhoneiro não estar no filme.



“Quando a saudade não cabe no peito, 
ela transborda pelos olhos”


Filmes como A Beira do Caminho e Caminho das Nuvens mostram bem a força das músicas de Roberto Carlos, letras de um tempo mais criativo e menos polêmico como os de hoje em dia com a questão das biografias não autorizadas.

O filme tem em seu demérito também a pouca exploração dos silêncios e ritmo contemplativo que é característicos de obras desse gênero do cinema, e que ao se iniciar focando placas traseiras de caminhões (de onde saíram algumas das frases que ilustram o texto) demonstravam a intenção, ou somente dava a entender, que teria um foco mais aprofundado - momentos que por sinal fizeram-me lembrar do belo Viajo Porque Preciso Volto Porque Te Amo.



Apesar de seus pesares, A Beira do Caminho se mostra como uma boa e emocionante obra que toca de forma bonita nas relações pais e filhos (que já se tornaram o mote do diretor), e como encontros inusitados podem mudar nossas vidas e até nos ajuda a nos redimir conosco mesmo.




A Beira do Caminho
Nota: 9.0
Tempo: 90 min
Direção: Breno Silveira
Produção: Conspiração Filmes
Elenco: João Miguel, Vinícius Nascimento, Dira Paes, Ludmila Rosa,  Ângelo Antônio
Diretor de fotografia: Luis Ignácio Barrague, Lula Carvalho
Edição: Vicente Kubrusly
Distribuição: Fox Filmes


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