Um garoto preso num bunker desde que nasceu descobre um mundo estranho, mas ao mesmo tempo familiar. Ali, tudo é diferente do que lhe contaram. E não vai demorar muito para descobrir que este garoto é nada menos do que o último rapaz da Terra!
“Enquanto isso, na banda desenhada...” é uma seção que traça um paralelo entre o universo real e o mundo dos quadrinhos, analisando como as duas realidades afetam uma à outra, trazendo informação e estimulando a reflexão acerca dessa 8ª arte.
Eram o fim dos anos 60 e o início dos anos 70. Os quadrinhos haviam mudado radicalmente, tanto por causa do Comics Code Authority (que impunha um regime ditatorial sobre as revistas em quadrinhos) quanto por causa de uma editora inicialmente chamada Atlas, mas que ficaria famosa com o nome de Marvel Comics. Criando personagens e equipes como o Quarteto Fantástico, Hulk e Homem-Aranha, a editora encontrou seu lugar no mercado, com histórias empolgantes, interessantes e de pessoas com os mesmos problemas que seus leitores, mesmo sendo eles seres superpoderosos. Um dos principais responsáveis (se não O principal responsável) pelo sucesso da Marvel foi o artista Jack Kirby. Desenhista e também criador de diversos conceitos conhecidos até hoje no Universo Marvel, Kirby se tornou uma lenda nos quadrinhos, ainda naquela época. Era um ótimo momento para a Marvel, mas não tanto para a DC, que possuía personagens clássicos e já estabelecidos no mercado, mas que estavam enfraquecidos frente aos novos tempos e suas raízes mais “tradicionais” e “cafonas”.
Para corrigir esse problema, a DC fez o que toda grande companhia que se vê ameaçada por um “peixe pequeno” faz: contratou o ás na manga do rival. Kirby foi para a DC com liberdade total para fazer o que quisesse (sim, é sério), e dessa liberdade surgiu o universo que ficou conhecido por “O Quarto Mundo de Jack Kirby”, um ambicioso projeto que introduziu personagens como Os Novos Deuses, O Povo da Eternidade, Senhor Milagre e os conceitos de Apokolips e Darkseid. Curiosamente, no entanto, esta que talvez seja a maior contribuição de Kirby para a DC não teve o sucesso esperado e não durou mais que dois anos. Os elementos do Quarto Mundo foram então integrados ao Universo DC padrão e passaram a aparecer apenas em outras revistas (principalmente às relacionadas ao Superman).
Um outro título, tímido e que se passava num mundo completamente diferente do mundo alienígena tecnológico que Kirby construíra para o Quarto Mundo chamou a atenção dos leitores e fez um estrondoso sucesso. Esse título era “Kamandi – The Last Boy on Earth” (Kamandi – O ultimo Rapaz da Terra, como ficou conhecido no Brasil).
A história se passava em um possível futuro, onde a Terra é conhecida como Terra-AD (After Disaster – “Pós-Desastre”). Neste futuro, uma calamidade chamada “O Grande Desastre” alterou os rumos da história humana e da evolução, fazendo com que os animais se tornassem inteligentes e governassem o planeta, escravizando os seres humanos, que agora eram meros animais irracionais (qualquer semelhança com Planeta dos Macacos não é mera coincidência, como veremos adiante).
É este mundo que Kamandi, um garoto que sobreviveu junto à outros humanos ao Grande Desastre enclausurado em um abrigo anti-aéreo de nome Comando D (e portanto não foram afetados pelo que quer que tenha causado as mudanças), encontra. Um mundo muito diferente do que seu avô lhe contava. Muito diferente MESMO.
A maioria dos mamíferos (Cães, Tigres, etc) tornou-se bípede com mão humanóides e criaram “gangues” ou “panelinhas” entre cada espécie, onde dominavam territórios específicos. Outros animais não mudaram fisicamente, mas falavam e possuíam inteligência, como cobras, golfinhos e baleias, por exemplo.
Em sua primeira aventura, Kamandi desbrava esse novo mundo, apenas para retornar e descobrir que todos no Comando D (incluindo seu avó) foram mortos por um grupo de Lobos inteligentes. Ao tentar escapar, é capturado, mas encontra um simpatizante animal, que o leva até Ben Boxer, um humano como Kamandi, que é inteligente e pode falar, mas também possui outras estranhas habilidades. Ben e Kamandi se tornam grandes amigos e passam a compartilhar aventuras.
Apesar da história não ser exatamente original (nem na época), a revista ganhou público por suas histórias empolgantes e por seus mistérios. Como será que está o resto do mundo que ainda não apareceu? Existem outros que não foram atingidos pelo grande Desastre? Onde ele começou? Quem começou? E, afinal de contas, o que foi o grande Desastre?
Bom, originalmente, nunca foi completamente explicado o que foi o Grande Desastre. Soubemos apenas, logo na primeira história, que a radiação teve uma grande importância. Uma terceira Guerra mundial, talvez? Ou um desastre natural?
Especulações à parte, algumas pistas sobre o Grande Desastre surgiram ao longo das histórias: em Kamandi # 16, por exemplo, o garoto é capturado por macacos que estão realizando humanos em suas experiências. Um macaco cientista encontrou o diário de um Dr. Michael Grant, escrito na época que o Grande Desastre ocorreu. Ele descreve sobre a criação de uma substância química que foi derramada no suprimento de água de Washington, e os animais que o ingeriram começaram a adquirir inteligência, sendo que seus descendentes já nasciam inteligentes. Muitos dos animais inteligentes originais vieram do Zoológico de Washington. Kirby escreveu as histórias de Kamandi até a edição #40, mas a revista continuou até o número 59.
Uma das edições mais clássicas de Kamandi foi a de número 29, em que Kamandi descobre casualmente o uniforme do Superman, mostrando que aquele era um dos possíveis futuros do Universo DC.
Kamandi chegou a se encontrar com personagens da DC, tais como Superman, Batman e até a Legião dos Super-heróis, mas apenas em histórias isoladas que pouco ou nada tinham a ver com a cronologia de suas próprias histórias. Em 1975, foi lançada a revista Hercules Unbound, que se passava no futuro de Kamandi, e que tentou criar trazer à luz novas explicações sobre a natureza do Grande Desastre, mas muito dali foi ignorado. Quando a Crise nas Infinitas Terras chegou, a realidade de Kamandi deixou de existir e sua história foi ligada à do personagem OMAC (One Man Army Corps); agora, Kamandi era neto de Buddy Blank, o OMAC, e tornar-se-ia Tommy Tomorrow (Aqui no Brasil chamado de Léo Futuro).
Apesar de ser um personagem desconhecido para a geração pós-crise, Kamandi atualmente ocupou um espaço importante no universo DC: Ele e Anthro (o primeiro rapaz da Terra) foram figuras-chave para a trama de Crise Final, a “derradeira” mega-saga da DC Comics.
“Enquanto isso, na banda desenhada...” é uma seção que traça um paralelo entre o universo real e o mundo dos quadrinhos, analisando como as duas realidades afetam uma à outra, trazendo informação e estimulando a reflexão acerca dessa 8ª arte.
Eram o fim dos anos 60 e o início dos anos 70. Os quadrinhos haviam mudado radicalmente, tanto por causa do Comics Code Authority (que impunha um regime ditatorial sobre as revistas em quadrinhos) quanto por causa de uma editora inicialmente chamada Atlas, mas que ficaria famosa com o nome de Marvel Comics. Criando personagens e equipes como o Quarteto Fantástico, Hulk e Homem-Aranha, a editora encontrou seu lugar no mercado, com histórias empolgantes, interessantes e de pessoas com os mesmos problemas que seus leitores, mesmo sendo eles seres superpoderosos. Um dos principais responsáveis (se não O principal responsável) pelo sucesso da Marvel foi o artista Jack Kirby. Desenhista e também criador de diversos conceitos conhecidos até hoje no Universo Marvel, Kirby se tornou uma lenda nos quadrinhos, ainda naquela época. Era um ótimo momento para a Marvel, mas não tanto para a DC, que possuía personagens clássicos e já estabelecidos no mercado, mas que estavam enfraquecidos frente aos novos tempos e suas raízes mais “tradicionais” e “cafonas”.
Para corrigir esse problema, a DC fez o que toda grande companhia que se vê ameaçada por um “peixe pequeno” faz: contratou o ás na manga do rival. Kirby foi para a DC com liberdade total para fazer o que quisesse (sim, é sério), e dessa liberdade surgiu o universo que ficou conhecido por “O Quarto Mundo de Jack Kirby”, um ambicioso projeto que introduziu personagens como Os Novos Deuses, O Povo da Eternidade, Senhor Milagre e os conceitos de Apokolips e Darkseid. Curiosamente, no entanto, esta que talvez seja a maior contribuição de Kirby para a DC não teve o sucesso esperado e não durou mais que dois anos. Os elementos do Quarto Mundo foram então integrados ao Universo DC padrão e passaram a aparecer apenas em outras revistas (principalmente às relacionadas ao Superman).
Um outro título, tímido e que se passava num mundo completamente diferente do mundo alienígena tecnológico que Kirby construíra para o Quarto Mundo chamou a atenção dos leitores e fez um estrondoso sucesso. Esse título era “Kamandi – The Last Boy on Earth” (Kamandi – O ultimo Rapaz da Terra, como ficou conhecido no Brasil).
A história se passava em um possível futuro, onde a Terra é conhecida como Terra-AD (After Disaster – “Pós-Desastre”). Neste futuro, uma calamidade chamada “O Grande Desastre” alterou os rumos da história humana e da evolução, fazendo com que os animais se tornassem inteligentes e governassem o planeta, escravizando os seres humanos, que agora eram meros animais irracionais (qualquer semelhança com Planeta dos Macacos não é mera coincidência, como veremos adiante).
É este mundo que Kamandi, um garoto que sobreviveu junto à outros humanos ao Grande Desastre enclausurado em um abrigo anti-aéreo de nome Comando D (e portanto não foram afetados pelo que quer que tenha causado as mudanças), encontra. Um mundo muito diferente do que seu avô lhe contava. Muito diferente MESMO.
A maioria dos mamíferos (Cães, Tigres, etc) tornou-se bípede com mão humanóides e criaram “gangues” ou “panelinhas” entre cada espécie, onde dominavam territórios específicos. Outros animais não mudaram fisicamente, mas falavam e possuíam inteligência, como cobras, golfinhos e baleias, por exemplo.
Em sua primeira aventura, Kamandi desbrava esse novo mundo, apenas para retornar e descobrir que todos no Comando D (incluindo seu avó) foram mortos por um grupo de Lobos inteligentes. Ao tentar escapar, é capturado, mas encontra um simpatizante animal, que o leva até Ben Boxer, um humano como Kamandi, que é inteligente e pode falar, mas também possui outras estranhas habilidades. Ben e Kamandi se tornam grandes amigos e passam a compartilhar aventuras.
Apesar da história não ser exatamente original (nem na época), a revista ganhou público por suas histórias empolgantes e por seus mistérios. Como será que está o resto do mundo que ainda não apareceu? Existem outros que não foram atingidos pelo grande Desastre? Onde ele começou? Quem começou? E, afinal de contas, o que foi o grande Desastre?
Bom, originalmente, nunca foi completamente explicado o que foi o Grande Desastre. Soubemos apenas, logo na primeira história, que a radiação teve uma grande importância. Uma terceira Guerra mundial, talvez? Ou um desastre natural?
Especulações à parte, algumas pistas sobre o Grande Desastre surgiram ao longo das histórias: em Kamandi # 16, por exemplo, o garoto é capturado por macacos que estão realizando humanos em suas experiências. Um macaco cientista encontrou o diário de um Dr. Michael Grant, escrito na época que o Grande Desastre ocorreu. Ele descreve sobre a criação de uma substância química que foi derramada no suprimento de água de Washington, e os animais que o ingeriram começaram a adquirir inteligência, sendo que seus descendentes já nasciam inteligentes. Muitos dos animais inteligentes originais vieram do Zoológico de Washington. Kirby escreveu as histórias de Kamandi até a edição #40, mas a revista continuou até o número 59.
Uma das edições mais clássicas de Kamandi foi a de número 29, em que Kamandi descobre casualmente o uniforme do Superman, mostrando que aquele era um dos possíveis futuros do Universo DC.
Kamandi chegou a se encontrar com personagens da DC, tais como Superman, Batman e até a Legião dos Super-heróis, mas apenas em histórias isoladas que pouco ou nada tinham a ver com a cronologia de suas próprias histórias. Em 1975, foi lançada a revista Hercules Unbound, que se passava no futuro de Kamandi, e que tentou criar trazer à luz novas explicações sobre a natureza do Grande Desastre, mas muito dali foi ignorado. Quando a Crise nas Infinitas Terras chegou, a realidade de Kamandi deixou de existir e sua história foi ligada à do personagem OMAC (One Man Army Corps); agora, Kamandi era neto de Buddy Blank, o OMAC, e tornar-se-ia Tommy Tomorrow (Aqui no Brasil chamado de Léo Futuro).
Apesar de ser um personagem desconhecido para a geração pós-crise, Kamandi atualmente ocupou um espaço importante no universo DC: Ele e Anthro (o primeiro rapaz da Terra) foram figuras-chave para a trama de Crise Final, a “derradeira” mega-saga da DC Comics.
Epílogo: CuriosidadesA seguir: Os homens (e mulheres) mais rápidos do mundo!
- O nome Kamandi foi reciclado de uma idéia de Kirby para uma tira de jornal chamada “Kamandi in the Caves”;
- A história de Kamandi era referência à outra história que Kirby desenhou em 57, “The Last Enemy”, onde um homem viaja para o futuro e encontra a Terra dominada por mamíferos inteligentes.
- A capa do primeiro número de Kamandi faz Referência ao primeiro filme da série “Planeta dos Macacos” - Carmine Infantino, Editor da DC na época, alega que criou a premissa da série, após ter falhado em conseguir os direitos para uma série em quadrinhos baseada no filme “Planeta dos Macacos”
- O Grande Desastre ocorreu recentemente no Universo DC na série semanal Contagem Regressiva; porém isso se sucedeu na Terra-51. Na seqüência de histórias, o Grande Desastre ocorre após Ray Palmer e seus amigos não conseguirem impedir Karate Kid (não o do filme, o da Legião dos Super-heróis) de liberar um vírus que tornou os animais inteligentes e os homens em animais irracionais.
- Apesar da Terra-51 ser aparentemente a Terra de Kamandi, há indícios na mini-série Countdown: Arena de que há outra variante do Grande Desastre.
- Em Crise Final # 2, Kamandi aparece como uma das crianças capturadas pelos servos de Darkseid.
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