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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Uma séria casa num sério mundo

“Vejo agora a virtude na loucura.
Pois este é um lugar que não conhece leis nem fronteiras.
Tenho pena das pobres sombras confinadas na prisão euclidiana que é a sanidade.”

Dr. Amaddeus Arkham




Tem Macabro



Nos primeiros posts desta coluna, falei muito sobre o que poderia ser considerada uma história de terror de verdade. Muito do que foi escrito estava mais relacionado ao cinema de terror, uma vez que é onde este gênero atualmente é mais evidente. Mas entre aquelas que eu considero as obras definitivas do gênero se encontra uma HQ que, considerando o protagonista, dificilmente seria relacionado ao terror pelos mais leigos: Batman.

Uma das grandes vantagens das histórias em quadrinhos é a variedade de gêneros com as quais nós podemos encaixar as histórias e, como já foi dito na coluna Irmão Olho, Batman é talvez o personagem psicologicamente mais indicado para ser utilizado em qualquer forma de narrativa. Mas a relação de Batman com o Terror não é nova; na verdade, em toda a sua história e desde sua criação, Batman foi muito influenciado por esse gênero e diversas homenagens foram prestadas em elementos da cidade, nomes ou personagens. Sua origem, segundo os próprios criadores – Bob Kane e Bill Finger – tem raízes principalmente nas histórias do Zorro e em um filme pouco conhecido de 1926 pelo público de hoje, The Bat (O morcego). Conceitos do personagem como a capa e o capuz em forma de morcego com o intuito de ser ameaçador e o Batsinal estão entre os elementos inspirados neste filme, que teve ainda duas outras versões: Em 1930, com o nome The The Bat Whispers (e dirigido pelo mesmo diretor do original) e um remake em 1959, estrelado por – adivinhem? – Vincent Price. Além disso, os principais vilões do Batman também são inspirados em diversas obras do gênero de terror. O Coringa, por exemplo, foi inspirado em um filme de 1928 chamado The Man Who Laughs (O homem que ri), que é a adaptação de um romance obscuro de Vitor Hugo.

Como todos – ou pelo menos todo mundo que lê esse blog – devem saber, um dos lugares que são presença constante nas histórias do Batman é o Asilo Arkham, sanatório onde se encontram os mais perigosos e psicóticos vilões do personagem (não por acaso praticamente todos eles). O sanatório foi construído por Ammadeus Arkham, que teve uma vida bastante perturbada, tendo enlouquecido logo após sua família ter sido assassinada por um maníaco que posteriormente veio a ser interno do asilo. Não por acaso, Arkham é o nome de uma cidade fictícia que aparece em inúmeros contos de H.P. Lovecraft. Mais uma referência ao gênero de terror entre muitas encontradas nas histórias do personagem.

Asilo Arkham – Uma séria casa num sério mundo (Arkham Asylum: A serious house on serious earth) é uma Graphic Novel originalmente publicada em 1989 pela DC Comics e cujo protagonista é Batman e os internos do Asilo Arkham. Escrita por Grant Morrison (que recentemente retornou ao personagem numa história polêmica que está para ser publicada em breve pela Panini aqui no Brasil) e Ilustrada por Dave Mckean (colaborador usual de Neil Gaiman), a Graphic Novel usa um motim dos internos do sanatório liderada pelo Coringa, para fazer uma assustadora viagem pela mente humana.

A história conta com duas narrativas principais: A história de Ammadeus Arkham, o fundador do asilo, contada através de seu diário, e o motim liderado pelo coringa, onde os vilãos têm apenas uma exigência: a presença de Batman entre eles. Batman terá então de adentrar no Asilo e acabar com o motim, antes de ser devorado pela loucura do lugar. Na história, para vocês terem uma idéia, o lugar é tão perturbador que, e dado momento, Batman precisa cortar a si mesmo para manter a sanidade.


Embora utilize o universo do Homem-Morcego, a Graphic Novel é muito mais do que uma simples história em quadrinhos. É uma perturbadora visão da humanidade do ponto de vista dos loucos. A história, além de assustadora, nos faz refletir sobre uma série de aspectos estabelecidos na nossa sociedade, como a origem da loucura, o que é realmente ser louco, e mais importante: Que realidade é a verdadeira: A nossa, ou a deles? Parte do sucesso da obra se deve ao fato de ter sido feita como uma resposta ao crescente “realismo” aplicado principalmente as histórias do Batman, o que tornara o personagem um psicótico atormentado. Asilo Arkham é, sem fugir à essência do personagem, uma obra complexa, psicologicamente densa e lúdica.

A Graphic Novel ainda conta com citações a Lewis Carrol e sua obra mais famosa, Alice no País das Maravilhas e lembra bastante os contos de Edgar Allan Poe e o terror psicológico de H.P. Lovecraft. Leitura altamente recomendada para os fãs do Homem-Morcego, mas principalmente para os fãs de Terror. Também possui uma coleção de citações próprias, assustadoras e perturbadoras por si só, que já valem a leitura.

“Sou eu. É de mim que tenho medo. Medo de que o coringa esteja certo sobre mim. Às vezes, questiono a racionalidade das minhas ações. Estou com medo de que, quando atravessar os portões do asilo... Quando eu entrar no Arkham e os portões se fecharem atrás de mim... Vai ser como voltar para casa.”
Batman

“A lua está tão bonita. Ela é como uma moeda lançada por Deus. E caiu com o lado riscado para cima. Assim ele fez o mundo.”
Duas-Caras

“Às vezes, eu acho que o Asilo é uma cabeça. Estamos dentro de uma cabeça que nos sonha. Talvez seja a sua cabeça, Batman. Arkham é um país dos espelhos. E nós somos você.”
Chapeleiro Louco

“É difícil pensar com a cabeça cheia de chuva. Eu fui pregado numa cruz de carvalho e, quando caminho, arrasto-a comigo. Eu sou o messias elétrico. Aquele que desceu, trancafiado nesta sala escura, neste século negro. Eles mutilaram e aprisionaram o rei divino. É de surpreender que o mundo adoeça e morra?”
Maxie Zeus

Batman (para os internos do Arkham): Estão livres. Todos vocês.
Coringa: Ah, nós já sabemos disso. Mas e você?


Batman – Asilo Arkham fan film



Na próxima Madrugada:
Black Sabbath. Mas não exatamente o que você está pensando.

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