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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Irmão Olho

O nerd e a referencialidade
Por Marcelo Soares


È mais que sabido que hoje em dia temos na sociedade uma cultura de convergência de mídias, tendências e gostos, e deva ser por isso que os nerds estão mais do que na moda (o fantástico que o diga). Mas, se pensarmos para o nerd o que é a moda, o que lhe chama tanto o interesse? Não, não falarei aqui de roupas para se usar em cosplay, nem camisas com estampas de heróis, mas sim de uma estratégia do mercado de cultura pop que vem funcionando muito bem para chamar a atenção dessa parcela de seres (anti) sociais, e que faz com que eles comprem mais e mais algo que é lançado: a auto-referencialidade, ou melhor, como os quadrinhos levaram para dentro de si a convergência midiática.



Para inicio de conversa, irei citar um exemplo de obra que com certeza 11 de 10 fãs dos quadrinhos devem conhecer e tem bem explícito esse artifício da referencialidade: Planetary, de Warren Ellis. A obra trata um grupo de pessoas com poderes especiais que catalogam, como arqueólogos, a “história oculta da humanidade”, uma história com raízes fortes na cultura pop. Portanto, como disse o João Felipe do Sobrecarga, “espere de cada aventura de Planetary citações e referências ao mundo do cinema e das histórias em quadrinhos, nas palavras do mestre Alan Moore: ‘Warren Ellis e John Cassaday fabricaram um engenhoso mecanismo com o qual podem explorar as possibilidades de nossa situação contemporânea’. Isto é, resgatar elementos do passado dando um novo encaminhamento e apontando para um possível futuro da nona arte.”

Essa sentença mostra bem o que quero discutir aqui, como nessa primeira década do século vinte e um o recurso de uma mídia fazer referência a outra, ou a si mesmo, está sendo muito utilizado para ser um atrativo a mais para quem compra. Com Planetary, e suas inúmeras citações visuais escondidas, ou não, gerou enxurradas de discussões em fóruns, teorias e até um guia, fomentando a curiosidade de quem não conhecia e aumentando o interesse de quem já na primeira edição se tornou fã. Ou seja, Ellis sabiamente usou o gosto pelo saudosismo e colecionismo do passado dos leitores para prender suas atenções.

Estratégia também utilizada por Grant Morrison na sua megasaga Crise Final, que muitos alardearam ser “arrogante, presunçosa e complexa” demais, até tem sua lógica, mas, antenado com os novos tempos e leitores, Morrison criou uma verdadeira caça a símbolos escondidos, histórias esquecidas e revivals por parte dos fãs do Universo DC. Na verdade, o escritor já faz esse tipo de coisa desde seus tempos de Homem-Animal e Patrulha do Destino, só que lá era mais com personagens “sumidos”, ampliando tudo isso em CF e em sua passagem pelo Batman, alimentando a fome de um leitor de quadrinhos que vive na velocidade e interconeção de uma vida cibernética, de wikipédias e cultura participativa, um verdadeiro Leitor 2.0.

Acho que qualquer pessoa ligada com as novidades desse mundinho virtual já tinha percebido que instigar o público com a lógica de pesquisa e “caça ao tesouro” é lucrativo, os produtores de Lost que o digam. Tanto que produtos audiovisuais como a série The Bing Bang Theory e o recém-lançado filme brasileiro Apenas o Fim, usam e abusam da capacidade nerd de se interessar por coisas que fazem referência aos seus gostos, explorando bem um filão de consumo que até pouco tempo era simplesmente renegado pela mídia e o capital.

PS: Essa postagem é um embrião de um futuro artigo sobre o uso de uma cultura da referencialidade e a convergência midiática nos quadrinhos, que ainda está para ser esquematizado nos próximos meses.

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