Nos Estados Unidos da América todo ano a indústria de quadrinhos celebra o Free Comic Book Day, no primeiro sábado de Maio. O evento sempre busca gerar um palco para as editores divulgarem lançamentos ou reimpressões, distribuindo revistas totalmente de graça. Além disso, serve para os fãs e profissionais envolvidos no meio mostrarem o quanto adoram quadrinhos.
No Brasil a cada ano no dia 30 de janeiro é comemorado o Dia do Quadrinho Nacional. O “Dia” foi instituído pela Associação dos Cartunistas de São Paulo em homenagem a data da primeira publicação de As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte em 1869, escrita e desenhada por Ângelo Agostini, considerados por muitos teóricos brasileiros a primeira história em quadrinhos do mundo.
Mas, afinal, o que a data americana tem a ver com a brasileira? Espera ai que eu explico!
Deixando terminologias de lado, historicamente falando o mercado brasileiro em histórias em quadrinhos só teve um volume considerável de publicações de material nacional até meados dos anos 40, como aponta o jornalista Gonçalo Junior em seu livro A Guerra dos Gibis (2004). No livro, o autor coloca que “as publicações em quadrinhos eram, sem dúvida, o que décadas depois seria chamado de ‘fenômeno de comunicação em massa’ no Brasil do inicio da década de 1940”.
Não que a produção não mais existisse nas décadas seguintes, porém, não com o mesmo volume, além de que nesse tempo as obras estrangeiras passaram a constar mais fortemente do nunca em nosso mercado. Nas duas últimas décadas intensificaram-se a tendência de lançamentos de quadrinhos para públicos diferenciados. Assim, obras de maior qualidade gráfica de produção foram surgindo; no entanto, em conseqüência dessa busca de qualidade editorial, esses produtos também são comercializados a um maior custo para o consumidor, o que, sob muitos aspectos, restringe seu potencial de vendas.
Hoje vemos encadernados em livrarias, bancas, revistas mensais em mix repletas de histórias desnecessárias, mas, mesmo assim, com um custo alto. Enfim, muita oferta, preços altos e um público que cada vez preferi qualidade, mas também com respeito ao público e formas acessíveis de alcançar o material que ele deseja.
Só para citar um caso que já se tornou clássico por conta da falta de visão, ou de empatia com o leitor, das editoras brasileiras ocorrido a pouco tempo, vou falar da Rio Comic Con, ocorrida em 2010. Todo mundo a essa altura já sabe que no evento de porte internacional, afinal grandes nomes como Milo Manara e Kevin O'Neill estiveram lá, só uma editora montou estande para vendas e a outra que montou (Panini) colocou só para vender assinaturas. Agora me digam se isso é falta de visão ou puro desdém pelo seu público? Afinal, em um evento sobre quadrinhos vender revistas é o mais lógico, e como visto com a Barba Negra realmente vende.
O mercado nacional de produção de quadrinhos, com novas revistas, álbuns de luxo e artistas envolvidos, vem crescendo, isso é fato. Só em 2010 tivemos uma Cachalote, um Bando de Dois, Pequenos Heróis, Turma da Mônica Jovem, MSP50, enfim, bons sucessos de critica e vendas. Mas, ainda há muito o que se vencer nesse mercado tão complicado, e, principalmente, se vencer a visão de editoras – em especial seus dirigentes de vendas, promoção, marketing – para podermos sair de um protomercado preso a leis de incentivos governamentais e, cada vez mais, mais inovador e favorável – inclusive financeiramente – para artistas. E, assim, quem sabe, melhorar a situação para nós leitores, com mais concorrências, preços equilibrados e respeito.
Marketings pré-históricos |
O Dia dos Quadrinhos Nacional ainda não compartilha da visão “free comic book” de propaganda e relacionamento por parte das editoras, mas, pelo menos, podemos comemorar a “retomada”, usando um termo utilizado mais para o cinema, que pode em futuro próximo ampliar, e muito, as obras e artistas envolvidos. Além do interesse de público em uma área da comunicação vista normalmente pela maioria da população como diversão para crianças e sem tantos atrativos. Fazendo, assim, que o Dia do Quadrinho seja uma data de grande repercussão e comemoração todo ano.
3 comentários:
Enquanto o Brasil cresce nos mais diversos âmbitos, em outros ele continua visivelmente estagnado. Não é possível que um profissional maduro e preparado o suficiente consiga a proeza de não antever certas oportunidades claras e evidentes de marketing. E convenhamos não é nada que exija algo fora do padrão normal e eficiente da publicidade contemporânea.
Olha... eu já comemoro o fato de ALINE ter virado uma minissérie pela globo e estar saindo mais um filme da franquia do MENINO MALUQUINHO, mas... ainda precisamos de mais.
Sabemos que a globo só fez isso por copiar os EUA, Fato.
Bela matéria. O que ela está fazendo aqui no Uarévaa? KKKKKK
É um longo caminho para tirar os quadrinhos do subsolo, mas vejo que é um caminho que está aos poucos sendo trilhado e conquistado. Vamos ver o que o futuro nos reserva para os quadrinhos no Brasil...
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