Uaréview
Eu me lembro da época em que estava para ser lançado “Bruxa de Blair”, há cerca de 10 anos atrás. Havia muito burburinho a respeito do filme, principalmente pelo fato do filme não ser exatamente uma ficção, mas sim uma filmagem real de um grupo de estudantes que foram atrás de uma lenda e nunca mais foram encontrados, até que essas filmagens foram resgatadas e colocadas no cinema.
É claro que nada disso era verdade. O que aconteceu é que, numa época em que a internet aqui no Brasil não tinha o boom de hoje, mas que em outras partes do mundo já mostrava a que vinha, alguns estudantes acharam que este meio era uma boa maneira de espalhar um boato. Melhor, era uma boa maneira de espalhar um boato de que o filme que eles lançariam era uma “história real”, criando toda a lenda da tal “Bruxa de Blair”, que na verdade nunca existiu. Até onde eu me lembro, é o precursor do “marketing viral” nos cinemas.
E é justamente esse contexto viral, e essa “mentira” muito bem contada o principal mérito do filme. Todo mundo ia assistir o filme “sabendo” que ele era uma história que tinha realmente acontecido. Então, o final completamente esdrúxulo e o fato do filme ser sobre a lenda de uma bruxa que nunca aparece e situações que levam do nada ao lugar nenhum não foram tanto assim alvo de críticas, uma vez que, à princípio, aquilo tinha realmente acontecido. O uso das câmeras de mão, e não ter sido rodado em película, dando a impressão de uma filmagem amadora, também ajudou bastante no realismo do filme, e foi até inovador, uma vez que não era algo que se fizesse com freqüência.
Bom, porque estou falando disso? Porque Atividade Paranormal é a tentativa de repetir o sucesso que Bruxa de Blair teve 10 anos atrás. Em termos de bilheteria, aparentemente este objetivo teve êxito, pois com apenas 15 milhões de orçamento, alçou mais de 120 milhões só nos EUA. Mas, quando o assunto é a trama, o buraco é um pouco mais embaixo.
A história segue um casal, Katie e Micah, que passando por incidentes peculiares em sua casa, decide começar gravar todos os seus passos a fim de registrarem os supostos fenômenos. E é isso. Em resumo, coisas acontecem geralmente quando eles estão dormindo, tipo portas que se fecham, sons de passos, etc, no dia seguinte eles acordam, olham a fita, vêem que algo aconteceu, soltam um “oh, my god”, e voltam a dormir, e os eventos voltam a ocorrer.
O filme até tenta, mas não consegue ser interessante. O recurso de “vídeo amador” para dar mais realismo até poderia ser considerado interessante, se já não tivesse sido realizado diversas outras vezes à exaustão e por filmes muito melhores (como Diário dos Mortos e [REC], por exemplo). A história até arrisca criar uma “mitologia”, mas ao que parece, no meio do filme o autor amarela (ou decide que o que pensou era muito ruim, sei lá), e isso deixa de ser desenvolvido. Aliás, isso acontece diversas vezes. À princípio, parece que ele vai engatar uma origem relacionada à fantasmas. Depois parece que ele vai entrar no campo de entidades demoníacas. Falam até de exorcismo, você acha que um deles vai ser possuído e ficar com a cara da Linda Blair, mas não. Nada acontece. Parece um pouco com Heroes, que sempre te deixa pensando que o próximo episódio será foda, e ele sempre fica aquém do que se espera. A maioria das cenas de Atividade Paranormal é assim.
O final até é interessante, mas de novo: poderia ser muito melhor, se não tivesse existido Bruxa de Blair antes dele. Aliás, para quem ainda lembra do filme, as semelhanças narrativas são gritantes. Particularmente, eu ando tendo problemas com filmes que não mostram nada desde que assisti “Fim dos Tempos” de M. Night Shyamalan e vi pessoas correndo do vento. É estranho para mim dizer isso, já que sou adepto do terror “quanto menos se vê, mais assustador é”, mas existem formas e formas de se fazer isso. É bem diferente você mostrar uma mulher gritando desesperada porque viu algo que a câmera não está mostrando, e ver a mesma mulher gritando e apontando para o nada, enquanto a câmera mostra que não há nada ali, e não está acontecendo absolutamente... Nada. Por isso em Atividade Paranormal eu vi exatamente o mesmo que em Fim dos Tempos. Parecia que eu estava sendo enganado. Só faltou aparecer o Sérgio Malandro no final do filme gritando “Ráaaa! Pegadinha do Malandro!”.
Essa sensação de estar sendo enganado talvez se deva ao fato de que sabemos que é apenas um filme. Só que o diretor parece mais preocupado em nos convencer de que a filmagem é real do que em realmente nos assustar. Tanto que, quando vemos as cenas “normais” entre os dois, realmente temos a impressão de estar vendo o vídeo de um casal de verdade. Mas quando entram em cena as tais “atividades paranormais”, a coisa soa muito, mas muito falsa. Não os incidentes em si, mas a reação e interação dos protagonistas para com eles. Aí a coisa fica um pouco constrangedora, porque em muitas cenas nós temos apenas uma câmera num tripé, parada filmando o quarto do casal dormindo, enquanto ouvimos barulhos vindos de fora do quarto. O filme até consegue dar uns sustos em alguns momentos usando esse recurso, mas na maioria das vezes é apenas chato bagarai.
Enfim, posso estar sendo apenas um chato rabugento (o que é bem provável), mas o fato é que, para mim, Atividade Paranormal é para o cinema o que Michael Brian Bendis é para os quadrinhos: Prometem muito, entregam muito pouco.
Talvez se eles tivessem inventado uma lenda, espalhado na internet e alegado que aquelas filmagens eram reais, quem sabe o filme tivesse tido toda uma outra concepção...
Em tempo: Sei lá, talvez quem já tenha experimentado situações semelhantes com as que aparecem no filme goste mais dele. Mas não sei. Ah, e detalhe, eu assisti o filme de madrugada, para dar ainda mais clima. Não adiantou.
Rafael Rodrigues já passou por situações semelhantes às vistas em Atividade Paranormal. Mas isso não o impediu de achar a película chata pra caramba.
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