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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Onde Vivem os Monstros



Nosso camarada Inferno está de volta ao "De fora", dessa vez com um ótimo review do filme mais recente de Spike Jonze, "Onde Vivem os Monstros".

Não deixe de conferir e mande voce tambem seu post pra gente!! O tema é livre, basta enviar texto e imagens pra contato@uarevaa.com.



Solidão

Estranheza

Deslocamento

Saudade

Vazio


Essas palavras incomodam qualquer um, machucam, muita gente odeia ler ou ouvir a respeito delas porque lhe vêm à mente momentos em elas se fizeram presentes e essas lembranças doem. Quando adultos nos escondemos dessas sensações com o que entorpece a mente, como videogames, narcóticos, sexo e programas que mostram a desgraça alheia (nos faz bem ver o próximo pior do que nós, né mesmo?). Mas e quando se é criança? Como fugir da dor? Como se evitar o desespero que é se sentir sozinho, de se sentir fora de seu mundo, incompreendido, abandonado e sem perspectivas?

Onde Vivem os Monstros dá a resposta.


Ou melhor, o pequeno Max (Max Records, um moleque de 12 anos que dá show) dá a resposta no filme de Spike Jonze, uma obra que não é infantil muito menos infantilizada, não é grandiosa, não é épica, não explode em efeitos especiais, não é clichezenta nem previsível, não tem final feliz nem mostra história de redenção, é praticamente um anti-Avatar. O filme mostra apenas uma história de fuga, de se tentar escapar daquilo que nos machuca e como é impossível fugir para sempre dessas dores.


O pequeno Max é assim como a maioria de nós nerds fomos (ou somos): filho de pais separados (ou o pai morreu, o filme não deixa claro mas não importa), uma irmã bem mais velha que o ignora, uma mãe que não pode lhe dar a atenção que ele deseja por ter coisas mais urgentes em mente como por comida na casa, seus brinquedos, seus bichinhos, seus monstros... E é assim que Max vive, nesse limiar entre uma vida que não é boa mas também não é nenhum Haiti. Até que um acontecimento (veja o filme pra saber, porra), faz Max fugir e se refugiar no mundo onde Ele é o rei, Ele é o centro das atenções, Ele é e se sente importante, um mundo habitado por monstros fortes e poderosos mas que se curvam perante o importante Max, e tudo seria perfeito nesse mundo afastado de todo mal e dor. Só que tem um problema que Max descobre com o tempo: dor e perda são sentimentos que estão dentro de nós e nos acompanham onde quer que estejamos, mesmo que seja no mundo dos monstros. Max descobre que tem coisas ruins que estão dentro de nós, tem coisas ruins que são fruto da convivência com o próximo, afinal os monstros pensam, falam, têm sentimentos, sentem raiva, dor, tristeza, solidão, inveja, ciúme, enfim, se relacionar com o próximo é difícil seja ele sua mãe ou um monstro de 3 metros com dentes afiados que vai te devorar se ficar muito chateado contigo.

E nesse jogo intrincado que é o relacionamento humano Max começa a aprender a jogar, a perceber que cada gesto, palavra, atitude sua traz consequências para o próximo e essas consequências vão acabar se refletindo nele e toda essa interação é complexa pra cacete, as vezes traz dor e sofrimento, mesmo com todo o esforço para que dê certo as vezes simplesmente não dá, e mesmo sendo difícil, doloroso, complicado e sem qualquer garantia de recompensas, ainda assim é o que dá algum sentido ao fato de estarmos aqui.

Onde Vivem os Monstros não é um receituário de como se viver (ainda bem), mas se há uma mensagem que se pode extrair desse filme, é de que, a vida por si já é difícil, conviver com o próximo é mais difícil ainda, mas apesar de tudo a gente tem sempre que se esforçar para que valha a pena. Pro pequeno Max valeu.


O filme é lindo, não é piegas, não é para crianças e não é para qualquer um. É cinema bem feito.

Inferno é um monstro.

Mas é fofinho.

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