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segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Médico e o Monstro

"Minha análise da alma, da psique humana, leva-me a crer que o ser humano não é verdadeiramente um, mas verdadeiramente dois. Um deles esforça-se para alcançar tudo que é nobre na vida. É o que chamamos de lado bom. O outro, quer expressar impulsos que prendam-no a obscuras relações animais com a terra. Esse é o que podemos chamar de mal. Ambos travam um eterno combate no íntimo da natureza humana, e contudo, estão atados um ao outro. E este elo provoca a repressão ao mau e remorsos no bom. Agora, se esses dois seres pudessem ser separados um do outro, quão livre o bom em nós poderia ser, que alturas poderia alcançar! E o assim chamado mal, uma vez liberto, buscaria sua própria realização, e deixaria de nos perturbar..."
Dr. Jekyll





Tema Macabro




Os verdadeiros clássicos sempre sobrevivem através dos tempos por um motivo. Vampiros, Mortos-Vivos, entre outros elementos comuns ao gênero de terror são usados à exaustão porque o público se interessa por esses temas. Não porque acreditam que isso possa ser verdade, mas porque esses elementos trazem à tona medos inconscientes e despertam nossos desejos, nossas fobias e preocupações irracionais que nem nós mesmos entendemos. É fácil entender, no entanto, o fascínio que alguns temas inerentes do terror provoca. Por exemplo: independente de crença, todo ser humano se pergunta – e se preocupa – com o que vem depois da morte. Como nunca ninguém (supostamente) voltou para contar como é, o interesse das pessoas pela morte é bastante justificável. Outro tema que interessa bastante as pessoas, são os conceitos envolvendo o bem e o mal. De onde vem? As pessoas nascem boas e depois se tornam más? Existem pessoas que nascem más? O Mal e o bem são características genéticas, sociais ou vem de algo muito maior que nós e que não podemos explicar? É justamente o conceito de bem e mal que é explorado em O Médico e o Monstro.


Conceituado médico, Dr. Jekyll vem se comportando de maneira estranha, chamando atenção de seus empregados e amigos. Cada vez mais isolado em seu laboratório, Jekyll começa a preocupar Mr. Utterson, advogado e amigo do médico, principalmente quando de posse de seu intrigante testamento. Enquanto isso, na cidade, um sujeito curioso e de atitudes bizarras parece causando estrago e aterrorizando pessoas locais com suas atitudes bruscas e embrutecidas. Mr. Utterson suspeita do envolvimento de seu amigo com o estranho forasteiro, e não concorda com tamanha benevolência com que Dr. Jekyll vem tratando esse intrigante rapaz, chamado de Mr. Hyde. O caso fica ainda mais complicada com a morte de Sir Davens, um ilustre membro do parlamento londrino. As suspeitas recaem sobre Mr. Hyde, que é visto entrando diversas vezes no domicílio de Jekyll, e inclusive carrega um cheque em nome do médico. Achando o caso deveras intrigante, e temendo pela vida de seu amigo, Mr. Utterson decide tirar a limpo essa história e vai até a residência do doutor, em busca de explicações. No final, Dr. Jekyll revela ao amigo que na realidade ele e Mr. Hyde eram um só, terrível resultado de uma experiência realizada em seu laboratório. Ao tomar a fórmula ele próprio, Dr. Jekyll se dissociou em dois: um de personalidade amável (o próprio médico) e outro de personalidade essencialmente má (Mr. Hyde). Cada vez mais fraco, Jekyll não consegue lutar contra o jovem e audaz Hyde, que começa a tomar cada vez mais conta do seu corpo e teme por sua própria morte.


Escrito em 1886 pelo escritor escocês Robert Louis Stevenson, o livro “The Strange Case of Doctor Jekyll and Mister Hyde” fez foi um estrondoso sucesso ao tratar da dualidade humana e da possibilidade de podermos nos livrar de nossas amarras morais. Além disso, a história também trata de outra questão interessante, que é a isenção de responsabilidade. Era muito comum no passado (e na verdade hoje em dia também) colocar a culpa do que se faz em algo além de sua vontade, como demônios sussurrando no ouvido, “ter nascido assim”, entre outras coisas. É comum ao ser humano ser incapaz de assumir que é capaz de grande mal – ou de grande bem, então dizer que “deus quis assim” ou “o diabo me fez fazer isso” sempre foram formas do ser humano se isentar da responsabilidade sobre o que faz. Em O médico e o Monstro, vemos exatamente isso: Dr Jekyll quer, na verdade, se livrar da responsabilidade de seus atos, dissociando seu lado mal do bom, na esperança de que não haja peso em sua consciência quando Hyde fizesse alguma coisa, afinal, “não seria ele” quem estaria fazendo.

Esse é um dos vários motivos pelos quais O Médico e o Monstro é uma obra atemporal e que merece ser lida, não só por fãs do gênero de Terror, mas por amantes da literatura em geral.


Curiosidades:
- Robert Louis Stevenson também é mais famoso por uma obra que não tem nada a ver com terror, o clássico da literatura infanto-juvenil A Ilha do Tesouro;
- Existem cerca de 123 adaptações da obra de Stevenson, só no cinema, sem contar adaptações de rádio e peças de teatro;
- O Professor Aloprado, clássico de Jerry Lewis (recentemente refilmado por Eddie Murphy) é uma releitura cômica de “O Médico e o Monstro”;
- O Incrível Hulk, personagem da Marvel Comics é uma clara reinvenção da história de O Médico e o Monstro.




Na próxima Madrugada:
Um dos assuntos mais assustadores vem a tona na próxima semana, em um livro bastante perturbador. Esteja aqui para conhecer o Majesic 12.

15 comentários:

Marianne Rodgers disse...

"... O Médico e o Monstro é uma obra atemporal e que merece ser lida, não só por fãs do gênero de Terror, mas por amantes da literatura em geral."

Disse tudo! Quem ainda não leu está se privando de um grande prazer! É uma obra envolvente e muito criativa!

Camila Téo disse...

Muito legal o seu comentário sobre esta obra de grande sucesso do SÉCULO SÉRIO da Literatura Romantica (de romance como forma escrita e não de romanesco). SUGIRO que faça uma também sobre o Frankstein, da Mary Shelley. Parabéns

Rafael Rodrigues disse...

Com certeza, Camila, valeu a sugestão. Além de eu falar sobre estes clássicos vez ou outra nos posts (até porque eles vivem ser vindo de inspiração para outras obras), planejo sim fazer posts específicos como um de Frankenstein. Aproveita e dá uma olhada nos que fiz sobre Edgar Allan Poe:

http://www.uarevaa.com/2009/05/madrugada-macabra_26.html
http://www.uarevaa.com/2009/06/madrugada-macabra.html
http://www.uarevaa.com/2009/06/madrugada-macabra_23.html

Camila Téo disse...

Menino, que máximo ,quase que totalmente o meu primeiro ano de faculdade...
Pena que a maioria dos livros que leio se relacionam tão pouco com o mundo dos quadrinhos e dos heróis ,senão teria muitos posts a fazer.
Adoro os romances deste período.
Um abraço

Rafael Rodrigues disse...

Mas Camila, minha querida, o Uarévaa é um lugar democrático, tem de tudo, só não tem resumo de novela porque a mãe do Moura ainda não topou fazer, então se vc quiser fazer posts sobre coisas mais eruditas ou períodos específicos da literatura, ou sobre qualquer outra coisa, faça que publicamos, o que importa é ser bem escrito (e já vimos nos seus outros textos que é, então, tudo bem)

orashinage disse...

Ah! nem precisa ser bem escrito vai! Né Diogo?

orashinage disse...

É uma vergonha mas nunca li!
Meu aniversário tá chegando e... bem...

Camila Téo disse...

Ai que emoção...
Vou poder falar aqui sobre um monte de livros que não posso falar na faculdade (AHAHAHA agora me segurem).
Mas sabe o que eu queria mesmo? Era escrever umas cronicas, sei la, fazer um resumo da semana UARÉVAA numa cronica e postar no sábado ou no domingo...
Obrigada Rafael pelo elogio que fez a minha forma de escrita.
Um abraço a todos.

Camila Téo disse...

Mas o seu aniversário não é só em Julho? OU ME enganei :(

guto disse...

Nossa Camila, sempre achei que os veículos 'nerds' na internet são carentes de colunas sobre livros, que são, na minha opinião, a fonte de nerdices primordial, da qual se originaram as mais atuais: quadrinhos, filmes e games.
Até mesmo eu pensei em fazer algum 'de fora da panela' sobre os livros que ia lendo, mas sempre arranjo uma desculpa e não faço.
Será que vc poderá quebrar essa escrita?

Renver disse...

Robert Louis Stevenson

ele se inspirou num pesadelo que teve para fazer esse livro... ainda fico pensando que pesadelo medonho deve ter sido...

ótimo livro!!!

---

Mais pra frente eu gostaria de fazer uma matéria sobre o desenho Gárgulas, poderia mandar pra vocês?

t+ abcs

Rafael Rodrigues disse...

Porra, Guto, demorou, sai daí e vai fazer um de fora da panela então, pô, eheuheuehuehue

Quando a gene diz que pro de fora vale tudo, não esamos brincando!

Rafael Rodrigues disse...

Porra, Renver, precisa perguntar? Escreve e manda que a gente publica sim, fio!

Camila Téo disse...

Desafio aceito Guto, estou separando algumas PEQUENAS obras aqui e tentarei fazer os posts assim que puder. Realmente os livros são fontes inesgotáveis de conhecimento e um "nerd" que é "nerd" (até pouco tempo achava este termo pejorativo) tem que conhecer algo de literatura.
Um grande abraço a todos...

orashinage disse...

Ah não, esse é o do Alex Matos, ele nasceu em dois de julho de mil novescentos e setenta e oito, às onze e cinguenta e cinco em santos, São Paulo.

Eu já nasci no dia em que ele foi obrigado a fazer primeira comunhão... que cai agora daqui uma semana!