Em 25 de setembro de 2006 nascia na TV Americana, uma série filha de fenômenos pops da primeira década do século XXI. Juntando a fama dos super-heróis, o fetiche pelos seus poderes e o sucesso comercial de filmes baseados neles, com o retorno com tudo das series de intrigas e mistérios, principalmente ancorado em Lost, que surgiu Heroes, uma criação de Tim Kring e que em sua primeira temporada logo alcançou índices altos de audiência e uma legião de fãs.
Porém, passados os primeiros impulsos a série percorreu uma estrada em declive para o fracasso e a repudia até dos seus próprios fãs, concluindo com seu cancelamento em 2010. Mas, por que uma série que prometia tanto terminou como terminou? È isso que vou tentar explicar no Documento Trolóló... quer dizer, no post de hoje.
"Como se parar uma série que explode?" |
Em sua primeira temporada (que eu curto) a série se “inspirou” não só nos X-Men (afinal, qualquer mutante depois dos anos 60 é inspiração nos mutunas da Marvel não é? Sei!), mas no plot de Watchmen, onde uma “grande catástrofe irá destruir Nova York e juntar o mundo na caça aos responsáveis”. Porém, ao fim dela o fato foi impedido – infelizmente de uma forma idiota, sem grandes lutas pirotécnicas, mostrando bem o que vinha pela frente – e o rumo dos personagens deixado em aberto.
Para mim, ali já começaram os erros, mostrando como a produção não tinha coragem de se desfazer de personagens que não tinham mais como existir (Sylar, Hiro, Peter, oi?). Na segunda temporada simplesmente repetiram o plot de salvação do mundo e para não perder seus Wolverines jogou cada um dos três em jornadas sem sentido principalmente por serem overpowers, em uma boa mostra de como estavam perdidos. Como os respectivos personagens estavam no auge do sucesso, então, mesmo que não ajuda-se a trama, eles continuaram.
Acho que esse foi o problema principal de Heroes. Todas as temporadas viamos um mau uso de personagens, jogando-os para “lá” e “para cá” com o intuito de enrolar e no final estarem onde deviam estar. Na 3 temporada, por exemplo, tentaram ir para o lado mais próximo dos quadrinhos, até personagens mortos ressuscitaram, mais vilões surgiram – no bom estilo Image de personagens sem passado, com grandes poderes e situações que se resolvem de formas absurdas e sem lógica, buscando reviravoltas e cliffhangers. Em suma, se afastaram drasticamente da lógica de pessoas com poderes tentando viver com eles. E no meio disso tudo soaram forçados e descaracterizaram personagens.
Então, veio o volume 4: Fugitivos – integrando ainda a terceira temporada da série - trazendo um plot que deveria ter sido o da 2 temporada: Em um mundo de pessoas com poderes o que acontece quando o governo resolve caçá-los? Digo que era para ter sido o inicio da segunda temporada porque, afinal, uma explosão nuclear nos céus de Nova York nunca passaria despercebida pelos órgãos de inteligência do país. Porém, nesse volume, os “heróis” só são perseguidos por que o Senador Petrelli, em uma mudança gigantesca de personagem, entrega ao presidente uma pasta com o nome de todos conhecidos por ele, buscando “fazer o melhor para todos e para o país”.
Nesse meio tempo, o co-produtor executivo e colaborador nos roteiros da primeira temporada Brian Fuller - que se ausentou dela no fim da primeira temporada e foi fazer sua própria serie: Pushing Daisies – retornou com o status de “homem que salvará a todos”. Com sua supervisão a coisa melhorou, poderes foram diminuídos – Peter, por exemplo, passou a copiar poderes só a partir do toque em alguém, e Hiro com um tumor por excesso de uso de poderes passou a não usá-los mais tanto. Criou-se limites e problemas, buscando tornar mais humano e menos super. Em suma, ele organizou a casa, além de escrever um episódio épico passado em 1961 – copiando o plot de Rising Stars de um campo de concentração para mutantes, e deixou pronto (pelo que dizem) o principal da quarta temporada até o 14º episodio. Assim, a série ganhou um novo fôlego e conseguiu se manter na grade de programação por mais um ano.
Não por coincidência, para mim, ate o 14º episodio da 4ª temporada tinha-se um ritmo legal, depois a série desandou novamente com saídas fáceis, correria e o lugar comum, seguindo assim até seu final no 19º episodio. Para quem não acompanhou, e para mostrar como a coisa tava feia, a seguir faço um apanhado do que vimos no último ano de Heroes. Se você tem problemas cardíacos, crianças no recinto ou não viu, não quer saber e tem raiva de quem sabe, não siga adiante, porque temos, obviamente, SPOILERS:
O plot da 4 temporada, para variar, não era muito original: Um cara que comandava um circo de "especiais" – alias, denominação criada nessa temporada emulando o nome usado também em Rising Stars - que ficava mais forte de acordo com o numero de especiais perto, já que cada especial irradiava uma energia própria que ele absorvia e convergia em poder, mais uma vez Rising Stars feelings,
Samuel, vilão da temporada |
Ao fim de toda essa “aventura”, Claire se revela para o mundo como uma supergarota em frente a câmeras de TV, Sylar se torna bonzinho depois de ter matado Nathan – no fim do volume 3 e tomar sua forma (depois de manipulação mental de Matt Parkman inserindo as memórias do Petrelli na sua mente) e se arrependido, virando amigo de Peter. Hiro continua o mesmo boboca sem propósito e acho que de (ir) relevante só. Cool hein man? Not.
Para mim, o que destruiu com Heroes foi exatamente o seu criador: Tim Kring. Um cara que já disse em entrevistas não conhecer nada sobre o mundo dos quadrinhos, de seres com poderes, que queria só fazer sucesso como Lost estava fazendo e aproveitou os ganchos existentes. E não podemos esquecer que quando Fuller saiu da série quem entrou no seu lugar? Jeph Loeb, conhecido como um simples mercenário do mundo do entretenimento, além deles, a emissora, produtores e afins envolvidos no trabalho buscavam somente lucro, não só contar uma boa história.
Tim Kring |
Bem, é uma pena que uma série que prometia, e por um pouco tempo trouxe, ser bem interessante e atiçar o gosto pelo gênero heróico em telespectadores que não viam com bons olhos esse tipo de história, tenha se perdido no caminho. Acho que com o hype de Heroes nenhuma outra serie do gênero vá surgir tão cedo, isto é, serie com temática nerd, quadrinhistica, que não deixa de ser pop, mas diferente de uma Big Bang Theory mostre os superpoderes, não só fale deles. É esperar para ver as promessas que surgem ao horizonte e torcer para que algo legal apareça e continue bom até seu fim.
PS: Abaixo coloco um vídeo que mostra um resumo do último episodio e coloca bem como a serie era algo somente de imagens e nada de diálogos fortes, se entende tudo só vendo, isso para mim não é algo positivo para uma historia audiovisual:
PS2: Se você estiver dizendo: “mas a coluna é sobre quadrinhos, porque ta falando de series”, se não entendeu ainda a ligação de Heroes com quadrinhos, te deixo a par com os Links aqui, aqui e aqui. Bom proveito
Marcelo Soares é jornalista, estudioso dos quadrinhos e cinema, busca ser escritor literário e um dia quem sabe publicar algo de vergonha.
5 comentários:
Achei muito legal essa sua análise de Heroes, Marcelo, mas tenho algumas considerações pessoais a fazer. Acompanhei a série desde a primeira temporada até a última, e posso dizer que nunca vi uma série começar tão bem e terminar tão mal (e isso não é exagero).
Mas discordo de você sobre o final da primeira temporada. Primeiro, Heroes, apesar de ter pego o Hype de Lost, tinha uma premissa muito mais parecida com outra série, The 4400. A idéia principal de Heroes era mostrar pessoas comuns desenvolvendo dons extraordinários da noite pro dia e tendo de lidar com isso. Embora alguém sempre vá dizer que isso já foi feito nos quadrinhos, digo que não, não de forma verossímil pelo menos. Colocar o personagem tendo problemas com dinheiro e emprego pode aproximá-lo da realidade do leitor, mas não da verossimilhança do universo criado para o personagem. Neste ponto a única história que chegou num ponto que eu considero adequado e competente de verossimilhança foi The 4400, que nem era sobre super heróis, mas mostrava pessoas com superhabilidades. Mas enfim, estou divagando.
O fato é que eu comecei a assistir Heroes por conta de sua premissa, não dos superpoderes, mas de tentar mostrar um mundo humanamente mais verossímil do que o dos quadrinhos. Embora seja estranho dizer isso, eu queria ver o drama dos personagens, não shows pirotécnicos. Neste ponto, acredito que o fim da primeira temporada foi muito eficiente e mostrou justamente isso, que não era uma série para quem curtia Dragon Ball, era uma série que tentava ser mais madura. Só que eu sempre pareci o único que entendia essa premissa (que era algo alardeado como principal foco da série desde o início, não sei como não a maior parte dos fãs não entendeu isso), e a partir das próximas temporadas eles tentaram agradar esse público que queria ver as histórias como nos quadrinhos e se ferraram, porque, sinto dizer, mas as histórias em quadrinhos de super heróis são, no geral, de ruins a terrivelmente péssimas. E a série seguiu esse caminho.
Outro problema foi que o Tim Kring originalmente projetou uma série que não teria sempre os mesmos protagonistas: a idéia era fazer cada temporada um arco e cada arco com seus próprios personagens, apenas se passando no mesmo universo. Então a segunda temporada teríamos outras pessoas desenvolvendo novas habilidades e tendo que lidar com isso, e assim por diante. Mas como os personagens da primeira temporada caíram nas graças do público, quiseram fazer as duas coisas (manter os personagens e criar novos), e aí a merda se fez.
E também tem outra: Colocar um personagem que tem a habilidade de viajar no tempo numa série é pedir para ter problemas. Colocar dois personagens que podem viajar no tempo (Peter ao conhecer Hiro) é burrica, agora colocar TRÊS personagens que podem viajar no tempo na mesma história (Hiro, Peter e o velho do Circo), aí o criador merece tomar, com todo o respeito, no olho do cu.
Ótima análise, Marcelo, sempre bacana ler seus textos!
Caralho... pq não fez logo um post continuação do dele? Texto no comentário não faltou e era mais um post pro blog... rs
Sobre o final da primeira temporada, eu gostei dessa logica "save the chearleader, save the world", onde salvar a Claire fez com o que o Pai dela se redimi-se e fosse salvar o irmão (algo mais humano e menos pirotecnico). O problema, para mim, é a tensão e a expectativa que os produtores criaram em cima de um final pirotécnico e com grandes embates (algo meio tb feito com Lost, mas isso é outro post rsrs).
mas vc tem razao tb em muita coisa que disse ai. Valeu.
excelente matéria...
só reforçou a minhs convição de que eu fiz a coisa mais certa do mundo em não acompanhar essa serie, assim como fiz com Lost...
Sem dúvida a melhor série sobre poderes é a despretenciosa e hilária Miftis, a segunda é Alphas.
Heroes foi aquela série que a gente chora de tristeza por saber no que poderia se tornar!
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