Uaréview
Por Rafael Rodrigues
“A mente crédula [...] experimenta um grande prazer em acreditar em coisas estranhas, e quanto mais estranhas forem, mais facilmente serão aceitas; mas nunca leva em consideração as coisas simples e plausíveis, pois todo mundo pode acreditar nelas.”
Samuel Butler, Characters
Aliens, OVNIS, astrologia, bruxaria. Temas que causam arrepios para muitos, mas que para a maioria dos cientistas não passam de superstições defasadas. Embora hoje tenha aumentado o número de cientistas que assume uma postura crítica e cética em relação a esses elementos (mas ainda existam muitos que preferem não se envolver em nenhuma discussão para não polemizar), Carl Sagan foi um dos mais populares a iniciar uma quase cruzada contra as chamadas pseudociências*.
Carl Sagan é um nome indiscutível. Astrônomo e escritor, o cientista foi um dos grandes pilares da ciência moderna, tendo trazido imensas contribuições para nosso compreensão do universo e valorização da ciência. Foi um dos maiores defensores da popularização da ciência (no sentido de difundi-la para todos, não distorcê-la para parecer outra coisa como costuma fazer a mídia popular), tendo criado programas como a série Cosmos e livros como Contato (que também virou filme, um dos preferidos do nosso colega Shazam).
Mas o que talvez muita gente não saiba sobre Carl Sagan era seu empenho em fazer as pessoas entenderem o que é realmente ciência. Atualmente, é fácil assumir que todo mundo sabe o que ciência quer dizer, mas infelizmente isto não poderia estar mais longe da verdade. Remédios que tratam de problemas de desequilíbrio energético, misticismo quântico e contatos com seres alienígenas são apenas alguns exemplos de temas que usam o nome da ciência para vender ao público algo que é tudo, menos científico. Embora a superstição não seja uma coisa nova, vinda desde os primórdios da humanidade – e, de fato, do ponto de vista evolutivo superstição já foi muito útil para o homem primitivo que não conhecia tanto a natureza e seus fenômenos e precisava ficar atento aos perigos que poderiam ocorrer – há nas últimas décadas uma preocupação com o mau uso da credibilidade que a ciência traz para validar tradições e crenças que custam a desaparecer do imaginário popular.
Um grande exemplo é a física quântica, que devido às suas características exóticas, caiu como uma luva entre os místicos que precisavam desesperadamente de uma forma de validar suas crenças – e na quase totalidade das vezes justificar suas fontes de renda. Uma vez que as particularidades da física quântica são esquisitas e difíceis de entender até para os cientistas (inclusive um deles cunhou uma frase que se tornou famosa entre os especialistas: “Se você acha que entendeu a física quântica, é porque você não entendeu nada da física quântica”), imagine então para as pessoas comuns. Logo, com o rótulo de “comprovadas cientificamente”, muitos absurdos são proferidos e descritos como parte da física quântica, quando não são nada mais do que besteirada pura que não tem nada a ver sequer com ciência.
O que nos traz aO mundo Assombrado pelos Demônios – A Ciência Vista como uma Vela no Escuro. O livro, escrito no agora um pouco distante ano de 1996, nos traz uma luz sobre as principais pseudociências e como podemos, nós que somos pessoas comuns que não estamos dentro da “panelinha” e não somos cientistas, nos prevenir e identificar tais fraudes, separando o joio do trigo do que é realmente ciência e o que não é.
Eu sei que muitas pessoas acham que superstições são, até certo ponto, saudáveis, principalmente se trouxerem conforto às pessoas. Eu discordo. Numa hipótese análoga, seria o mesmo que dizer que é aceitável o governo esconder uma epidemia com a desculpa de não querer provocar pânico na população. A verdade DEVE ser encontrada e disseminada. E, correndo o risco de parecer contraditório, como diz a própria bíblia: “A verdade os Libertará” (nota: É impressionante como essa frase nunca é vista em seu escopo por quem lê a Bíblia, mas isto é assunto para outro post). Por isto eu concordo com Carl Sagan quando ele diz que, por mais que a ciência tenha suas falhas, por enquanto ela é a melhor coisa que temos para explicar a realidade.
O Mundo Assombrado pelos Demônios tenta alertar de forma geral sobre os perigos da pseudociência (a mais evidente e imediata é, é claro, o seu bolso), mas destaca alguns temas que permeiam o imaginário popular há muitas décadas e, mesmo tendo sido desacreditados pelos cientistas, ainda continuam firmes e fortes, como a (não) ida do Homem à Lua, a face em Marte, alienígenas, o acobertamento do governo com relação aos ETs, bruxaria e outros. É uma leitura extremamente agradável, embasada bibliográfica e cientificamente e, diferente de Deus, Um Delírio de Richard Dawkins, muito mais suave e bem menos incisiva. É um verdadeira mostra de uma argumentação razoável e plausível, que, para aqueles sem a “Síndrome de Fox Mulder” (a predisposição a acreditar em qualquer coisa, mesmo sem nenhum evidência confiável), vai ser difícil voltar a acreditar firmemente em discos voadores, cristais e forças sobrenaturais.
O livro foi publicado aqui (na edição mais recente) pela Companhia das Letras. O preço vou ficar devendo (porque comprei há um bom tempo e, como sempre, com várias outras coisas juntas). No entanto, sei que está disponível na Saraiva por R$ 30,50**, o que é um preço muito bom. Vale a pena adquirir O Mundo Assombrado pelos Demônios – A Ciência como uma Vela no Escuro para quem quer um sopro de sanidade em um mundo cada vez mais mergulhado numa nova era das trevas.
Nota: 10 (e olha que não dou nota máxima para qualquer coisa)
P.S.: Vale lembrar que falamos de alguns assuntos que passam pela pseudociência nos podcasts Uarévaa. Se não ouviram ainda, confiram o de Alienígenas, o de Fantasmas e o de Viagens no Tempo.
P.S2.: Para quem se interessa por ciência de verdade, fica a ótima dica do nosso leitor Beetlejuice, o programa Fronteiras da Ciência, uma iniciativa do Depto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que conta com cientistas de diversas áreas e visa tratar de diversos assuntos e fazer a distinção entre o que é ciência e o que é pseudociência. Altamente recomendável.
*Pseudociência, caso não tenha ficado claro durante a leitura do post, é tudo aquilo que usa jargões científicos, palavras rebuscadas, termos e explicações que usam conceitos científicos para validar algo que na verdade não tem nada de científico (e que quase nunca tem a ver com as argumentações que usam).
**Este não é um post patrocinado pelo Submarino, mas se o site estiver interessado em contribuir com algum, estamos aí.
Um comentário:
Curti a resenha. É o tipo de livro q tenho curiosidade de ler, mas tomo muito cuidado.
Sou meio Fox Mulder e coisas céticas as vezes me desagradam. =)
Por falar em ceticismo, tem um blog bem legal chamado "Ceticismo Aberto". Lá eles explicam um monte de coisa, inclusive sobre aquela foto do viajante do tempo. Muito interessante.
Quanto à Física Quântica, sou meio fã do assunto, até por que sou budista e tem muita coisa lá q faz analogia a alguns ensinamentos. Fazer o q? Tb acho errado usarem disso pra fazer com q alguns acreditem em certas coisas, mas o engraçado é que existem vários cientistas q participam de documentários e palestras sobre física quântica relacionada a algumas crenças. Shame on you pra eles, então! =)
Assistam Mr. Nobody. Filme muito bom que usa um pouco da Física Quântica pra explicar certas coisas, inclusive uma possível distorção do tempo.
Enquanto não descobrimos as respostas q procuramos o bom é procurar em tudo, até num blog safado como esse!
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