Uaréview
Por Rafael Rodrigues
“André, o mundo precisa de mais histórias felizes.”
O que acontece quando morremos? A vida acaba? Ela continua, e somos punidos por nossos pecados? Encontramos Deus? Reiniciamos um ciclo de vida eterno? Simplesmente apodrecemos? Estas são algumas das perguntas que levam as pessoas a crer na vida após a morte. E, sendo o espiritismo o assunto do momento, não é de se surpreender que Nosso Lar tenha chegado às telas com grande expectativa.
Fazer um review de uma produção como essa é algo bastante arriscado. Digo isso porque é difícil escrever algo sem se deixar levar pelas suas próprias convicções. Diferente do cristianismo que, mesmo quem não acredita teve durante sua vida (ou pelo menos sua infância) praticamente enfiados goela abaixo filmes cristãos (no caso dos ocidentais, obviamente), o espiritismo não é uma religião dominante no país. No entanto, segundo estimativas, existem atualmente cerca de 3 milhões de pessoas adeptas do espiritismo, sem contar as pessoas que, apesar de não praticantes, podem ser consideradas simpatizantes de suas doutrinas. Isso faz do Brasil a nação com maior número de espíritas no mundo inteiro e, sabendo disso, fica fácil entender o interesse dos estúdios em produções voltadas a esse público, principalmente depois do sucesso do filme sobre a vida de Chico Xavier.
Conhecendo um pouco sobre o assunto (essa é a vantagem de se estar em uma família onde cada um acredita numa coisa completamente diferente), fica fácil entender o fascínio das pessoas por esta visão de (pós) mundo. Na realidade espírita, não há imposições sem sentido com relação ao que gostar, como se vestir e o que ouvir; não existe céu ou inferno, mas sim estados de consciência para onde você vai, dependendo de suas atitudes. Além disso, o espiritismo é moderno, não só em termos cronológicos – é bastante recente se comparada às religiões “principais” – mas também no que se refere à sua flexibilidade e relação com o desenvolvimento tecnológico humano. Sendo assim, o nosso mundo, incluindo as inovações tecnológicas, nada mais são do que um reflexo do “verdadeiro” mundo, que é o mundo espiritual, um mundo muito mais avançado que o nosso (qualquer semelhança com mundos alienígenas semelhantes da ficção não é mera coincidência).
E foi justamente essa flexibilidade que me levou a assistir Nosso Lar, produção dirigida e roteirizada por Wagner de Assis baseada em um livro escrito por Chico Xavier e (supostamente) ditado pelo espírito de André Luiz, que conta sua vida no mundo espiritual e na "colônia" Nosso Lar do título. E aí é que entra a dificuldade de se manter isento na história. Primeiro porque, para os espíritas, Nosso Lar é uma descrição completa – e real – de como funciona o mundo espiritual e, neste caso, é algo que fundamenta toda a doutrina. Em outras palavras, para os espíritas, tudo aquilo que é visto na história deve ser tomado por verdade. Para quem não é espírita, no entanto, resta a boa vontade de esperar uma produção de qualidade e envolvente ou – no caso de crentes de outras religiões – simplesmente ignorar suas próprias crenças em prol de apreciar a história.
Eu sou ateu. Não costumo declarar isso aos quatro ventos porque sou minoria em um mundo que acha que vou para o inferno apenas por questionar a existência de Deus. Mas acho que, no caso dessa resenha, é necessário estabelecer meu posicionamento a respeito da história e assim justificar minhas opiniões. Como você pode imaginar, não fui assistir Nosso Lar porque para mim ele representa a verdade absoluta sobre a natureza da realidade, mas também não fui lá para ficar contestando cada cena. Fui ao cinema, assim como sempre, para assistir o que eu esperava ser um bom filme nacional de ficção científica. Infelizmente, não posso dizer que foi uma experiência recompensadora, mas acho sim que ela tem seus méritos.
Começando pelos aspectos positivos, é sempre bom ver uma produção que fuja da tradicional trinca comédia romântica – violência urbana – seca no nordeste. Sem contar que não é todo o dia que vemos produções que contem com cenários fantásticos elaborados e com efeitos especiais de empresas como a Intelligent Creatures, responsável por filmes americanos como Sr. e Sra. Smith, Babel e Watchmen, fazendo dela a produção brasileira mais cara já realizada – e, diferente de outros filmes, como Lula – O Filho do Brasil, em Nosso Lar nós conseguimos ver para onde foi todo o dinheiro. Além disso, a história conta com conceitos muito interessantes de serem explorados na ficção, uma mensagem positiva (embora um tanto piegas) e tem um visual bastante voltado para o realismo fantástico, o que torna a produção atrativa nacional e internacionalmente, mesmo para quem não é espírita.
Mas talvez este seja um dos problemas de Nosso Lar. É um filme espírita, feito para espíritas. Nem mais, nem menos (afinal, é apoiada pela FEB – Federação Espírita Brasileira). A extravagância orçamentária (20 milhões) que garantiu os efeitos visuais não muda o fato de que a produção foi desenvolvida para buscar manter a credibilidade da doutrina e, por conseguinte, validá-la. Não que isso seja realmente um problema, afinal, os cristãos fazem isso há tempos (a Globo que o diga, sempre reprisando ad infinitum aqueles filmes bíblicos sobre a Páscoa, a crucificação de Jesus entre outros) e não vejo porque deixar de assistir a uma obra bem executada, mesmo não tomando aquilo como verdade. Afinal de contas, adoro filmes de zumbis e nem por isso acredito que eles caminham por aí comendo cérebros na realidade.
Mas o contexto religioso, apesar de contar não é, nem de longe, o principal problema. Embora seja bem dirigido, conte com uma fotografia competente e efeitos visuais e cenários muito bem elaborados e bonitos, a produção carece de outros elementos que tornam difícil fazer o filme funcionar como experiência cinematográfica. Um dos pontos mais negativos é, sem dúvida, a atuação que é, usando um termo científico, ruim. Alguém precisa dizer para os atores brasileiros que atuar no nível de novela da Globo não é atuar bem. Muitos dos atores ali, especialmente os protagonistas e até alguns veteranos – que eu admiro como grandes atores, embora estejam devendo muito no filme – precisam aprender a sair de suas zonas de conforto, assistir mais filmes nacionais bons e se esforçar um pouco mais para atuar de verdade e fugir da atuação no piloto automático.
Outro grande problema, a meu ver, foram os diálogos. Além de serem extremamente piegas, são didáticos demais e servem apenas para levar a história de um ponto à outro e explicar como funciona a doutrina espírita. Não há nenhuma sensação de veracidade naquilo que sai da boca dos personagens (se bem que isso não sei se é devido aos diálogos ou à atuação medonha de alguns). Os personagens são muito rasos, não há um real desenvolvimento de suas personalidades. Não conhecemos melhor os filhos e mulher de André Luiz, que ficaram na Terra quando este morreu, o que não ajuda a nos identificarmos com eles. Eu até entendo a uniformidade nas personalidades dos personagens que vivem no Nosso Lar, mas não iria doer diferenciar um do outro com algum traço característico. Todos pareciam atores diferentes “interpretando” um mesmo personagem. Até há algumas tentativas de se aprofundar em alguns deles, mas chega a ser constrangedor ver as mudanças súbitas de atitudes apenas para tentar humanizar estes personagens de última hora. Sem contar que não existe nenhuma explicação social adequada para os defeitos do protagonista. Para todos os efeitos, o fato dele ser ateu (o que nem é explorado de forma competente no filme, resumindo-se à uma piadinha tola) é suficiente para ele ser egoísta, arrogante e "suicida inconsciente" (say what???).
Vendo o filme como ficção científica, ele tem seus problemas narrativos e de produção. Mas vendo sob o ponto de vista espiritualista também. A história me trouxe uma série de questões (que, se alguém que está lendo for espírita e tiver a boa vontade de explicar, o faça nos comentários, pois realmente quero saber), um tanto bobas é verdade mas igualmente válidas: Porque eles ainda comem e bebem no mundo espiritual? Porque ainda dormem? Porque só toca música clássica (não que eu esteja reclamando, as músicas do filme são ótimas)? Porque não existem cães ou gatos no Nosso Lar (pelo menos eu não vi, se caso apareceu e eu passei batido, podem dizer que eu sou burro)? Apenas as aves e borboletas podem ascender aos céus, enquanto outros animais não, ou mamíferos tem seus próprios “lares” separados no mundo espiritual? E os dinossauros, onde entram nessa história (tá, confesso que essa foi só para implicar)? Se eles lêem a mente um do outro, porque diabos ainda precisam falar?
Eu teria, é claro, muitas outras questões, mas elas não teriam muito a ver com o filme em si, e sim com a doutrina. Imagino que o espiritismo deva ter a resposta para tais questões mas, se tem, isso não ficou claro na produção (ou pelo menos não ficou claro para mim). No fim das contas, Nosso Lar pode ser visto de 3 formas diferentes: Para os espíritas, será uma descrição fiel do que eles consideram como verdade e, portanto provavelmente será uma experiência satisfatória; para ateus e agnósticos, que verão o filme apenas como uma história de ficção, vão ter problemas em “comprar” a história (pelos problemas técnicos que citei); e para os teístas adeptos de alguma religião será uma abominação que viola tudo aquilo que eles acreditam, e portanto, se tiverem a boa vontade de ver o filme (o que eu acho difícil), eles provavelmente questionarão tudo e tentarão boicotar o filme. Inclusive, eu fico curioso para saber o que um judeu pensaria de ver suas crenças totalmente obliteradas ao presenciar as vítimas do holocausto chegando no Nosso Lar e ouvindo um espírito engraçadinho dizer a eles “Não é o céu que vocês estavam esperando, mas vamos cuidar de vocês mesmo assim”.
Nosso Lar não é o melhor filme brasileiro já feito, longe disso. Mas denota um maior interesse no investimento de produções mais criativas e que fogem do convencional para o público comum. Se é um filme que vale a pena ver, não sei dizer ao certo. Minha mãe, por exemplo, se emocionou com o filme (levei ela para assistir também). Tudo bem que ela não tem muito critério para filmes, mas acho que ela representa bem o público que se interessará por essa produção.
Eu por outro lado, achei a mensagem bastante positiva... Embora não entenda porque esperar no pós-vida algo que pode ser conquistado em vida, com esforço, dedicação e altruísmo, enquanto a humanidade ainda existe (em matéria, pelo menos).
Porque o "nosso lar" não pode ser aqui mesmo?
Nota 5,3333333333333333333333333333333333333333333333333333...
(achei adequado para este review uma dízima periódica rumo ao infinito)
P.S.: Alguém me explica porque citam o filme como “Baseado na Obra de Chico Xavier”? Afinal, o livro não foi psicografado (ditado por um espírito)? Neste caso, isso não faz do Chico Xavier apenas uma ferramenta, sendo o verdadeiro autor o (suposto) espírito de André Luiz? Não seria a mesma coisa de dizer que quem teve a idéia do nome de uma criança foi o escrivão, ao invés da mãe/pai que ditou o nome para ele?
Rafael prefere apreciar todo o filme a pular direto para o final. Talvez por isso prefira aproveitar a vida a pensar no seu desfecho.
14 comentários:
Gostei do review, embora não possa dizer muito sobre pois não vi o filme e não sou espírita.
Agora uma pergunta: Rafael, vc falou de uma série de questionamentos que ficaram, e deixou claro que são da doutrina e não do filme, embora tenham sido levantadas gracas a ele. Se fossem responder a tudo isso (e provavelmente até a outras coisas) no filme ele não ficaria ainda mais "didático" e com "cara de cartilha espírita" do que me parece ter soado pra vc?
Não necessariamente, Freud. a história cinematográfica está repleta de exemplos de filmes que sabem explicar sem ser didáticos. Eu até sei as respostas para alguns dos meus questionamentos (como disse no review, conheço um pouco sobre o espiritismo) e alguns deles poderiam ser colocados no filme em pequenos detalhes, ou às vezes até em um diálogo, mas de forma coerente e sem ter como único e exclusivo objetido de explicar. Por resolvi colocar estes questionamentos no texto justamente porque acho que são perguntas que faltaram no filme, e que deveriam estar lá.
O diretor devia ter lembrado durante a produção que existia a possibilidade de não espíritas assistirem ao filme e, portanto, não conhecem a fundo todos os detalhes da doutrina.
É um filme espírita, feito para espíritas. Nem mais, nem menos (afinal, é apoiada pela FEB – Federação Espírita Brasileira).
Rafael, nem mesmo a FEB foi capaz de dizer isso, o filme foi apoiado por eles mas feito especialmente para aqueles que acreditam de alguma forma em tudo aquilo que Chico Xavier nos deixou. Afinal alguem VIVO deveria assinar a papelada de direitos autorais, que vão direto para as fundações mantidas com o nome dele la em Minas Gerais.
Não sou espírita mas li este livro e achei sensacional a forma como eles montaram o cenario do Nosso Lar.
Concordo com o Freud quando disse que muitas coisas neste review sairam da sua doutrina, mas sei o quanto é dificil não misturar as coisas diante da quantidade de informações trazidas pelo filme e por tudo que esteve a sua volta (Midia, FEB e a crítica geral).
Um grande abraço
Camila, eu não tenho nenhuma "doutrina" (ateísmo não é religião, é falta dela), então fica difícil dizer que coisas do meu review saíram dela. Analisei o filme como filme, e todas as questões relacionadas à doutrina citei apenas por carecerem de respostas no próprio filme. Não estou questionando o espiritismo, e sim a produção como experiência cinematográfica.
Sobre a questão do Chico Xavier, independente de qualquer coisa, seria mais adequado dizer "Baseado em uma obra psicografada de Chico Xavier" pois, do contrário, você está denotando que ele é o verdadeiro autor, e portanto, a própria frase invalida a crença, atribuindo a autoria ao médium e concluindo que é uma obra de ficção.
Camila, eu nao quis dizer sobre a doutrina do Rafael, e sim que os questionamentos dele sao a respeito da doutrina do espiritismo e não do filme.
Realmente não tenho como avaliar. Dá pra se explicar muita coisa sem soar didático, como ele me respondeu, mas o que eu quis dizer é que: se pra ele o filme soou muito didático, mais informacoes acabariam esclarecidas dessa mesma forma, tornando essa sensacao ainda maior.
Bem, o filme era obvio que seria uma propaganda do espiritismo, e feito para espiritas se regorgizarem de terem um filme da doutrina deles. Mesma coisa dos filmes sobre cristo, moisés e afins para os catolicos. Confesso que não me chama muito a atenção nesse ponto de vista, mas sim como ficção cientifica - resalto que ainda não vi a obra.
Sobre o ateismo ser a falta de religião, WROOOONNNNGGGG! Agnosticismo é isso (o que eu sou), ateismo é não acreditar na figura de Deus. Po rafael, tu erra! kkkk
"Porque o "nosso lar" não pode ser aqui mesmo?"
Digo o mesmo, a doutrinação de que tudo fica melhor depois que morremos, faz com que aqui não sejamos o melhor que podemos ser.
Acho que o maior problema de produções nacionais ainda é
e vai continuar sendo por um bom tempo:
Alguém precisa dizer para os atores brasileiros que atuar no nível de novela da Globo não é atuar bem. Muitos dos atores ali, especialmente os protagonistas e até alguns veteranos – que eu admiro como grandes atores, embora estejam devendo muito no filme – precisam aprender a sair de suas zonas de conforto, assistir mais filmes nacionais bons e se esforçar um pouco mais para atuar de verdade e fugir da atuação no piloto automático.
Primeiramente meus parabéns pela crítica. Sinceramente, eu tenho lido poucas críticas inteligentes a respeito desse filme, tanto por parte dos que o condenam quanto por parte dos que o defendem. A sua, provavelmente por ser ateu, foi imparcial e muito inteligente.
Sou espírita muito atuante há dezesseis anos e me considero acima de tudo uma pessoa coerente, algo que nem todos (na verdade a minoria) em uma religião (mesmo que seja o futebol) conseguem ser, por cegarem de paixão.
A respeito dos problemas técnicos do filme, concordo com todos e você pode se quiser até mesmo conferir minha crítica no meu blog (www.alexandrocastro.com/blog), portanto vou apenas comentar alguns poucos pontos seus.
1) Porque eles ainda comem e bebem no mundo espiritual? Porque ainda dormem? - Não caberia aqui uma aula sobre o assunto, mas acreditamos que o espírito conserva por algum tempo as impressões do meio no qual viveu por certo tempo. No livro (Nosso Lar) você veria que aos poucos vários espíritos deixam de se alimentar como nós e deixam de ter a necessidade até andar como nós.
2) Porque só toca música clássica - É bom lembrar que foi uma representação do diretor do filme. Não há essa narrativa no livro indicando que haja esse tipo exclusivamente de entretenimento. De fato em outros livros diz-se que há grupos de jovens com gostos para artes e músicas semelhantes aos atuais. Como a estória do filme se passa no fim dos anos 30, música clássica parece ter sido uma idéia pertinente do diretor.
3) Porque não existem cães ou gatos no Nosso Lar - Burro você não é, mas desatento sim. Em uma das cenas aparecem cachorros lindos. Mais uma vez é bom lembrar que houve uma liberdade artística do diretor, mas no livro André Luiz diz que há uma enorme variedade de fauna e flora semelhante a terrena e ainda outra variedade diferente.
4) Se eles lêem a mente um do outro, porque diabos ainda precisam falar? - Embora a leitura do pensamento também seja citada em algumas obras, ela não é (até onde me lembro) uma questão abordada no livro Nosso Lar. Na verdade eu havia entendido no filme o "leia meus pensamentos" como um "tente adivinhar o que estou pensando, o que me faria feliz agora?". Acho que você teve essa interpretação pela "natureza" do filme, mas não acho que foi um sentido literal ali.
5) Porque o "nosso lar" não pode ser aqui mesmo? - Mas pode, penso que sim, e outras pessoas também. Existem propostas de modelos de desenvolvimento tecnológico e social (vide projeto Venus) que transformaria nossa humanidade em um Nosso Lar real. Infelizmente é uma idéia de poucos que não atinge os corações dos líderes mundiais, tampouco de boa parte da população.
6) porque citam o filme como “Baseado na Obra de Chico Xavier”? - Pois não é? Foi a primeira coisa que me incomodou. Talvez uma forma tímida de tentar "não impor" a certeza dos espíritas de que a obra é verídica. Vai saber.
Bom, parabéns pelo texto mais uma vez e uma boa semana.
Cara, valeu pelo elogio e valeu pelas explicações. Eu imaginava que estas questões eram puramente relacionada às falhas do filme e, olhando agora com estas explicações (e incursões, como no caso da fauna e da flora), o filme faria bem mais sentido. Como não li o livro, realmente ficou difícil saber o que era liberdade artística do diretor e o que era tirado diretamente do livro, seu comentário me ajudou muito a fazer algumas distinções importante.
Gostei eim....
aí a gente veê que mesmo entre pessoas religiosas
há pessoas equilibradas...
"Digo o mesmo, a doutrinação de que tudo fica melhor depois que morremos, faz com que aqui não sejamos o melhor que podemos ser."
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Eu também acho que as vezes esse tipo de filosofia "impede" o ser humano de tentar mudar as coisas aqui mesmo...
Impede no sentido, dele aceitar a nossa atual condição como inexorável...
Eu tenho certeza que Deus deu a inteligência e bom senso pra nós fazermos o melhor com que temos em nossas maõs... e não para prejudicarmos uns aos outros. Infelismente somos egoístas e obtusos demais... Mas acredito que esses dois fatores podem ser mudados aqui mesmo, nesse único (e precioso momento dentro do espaço e tempo) da vida que temos.
Pois é, fico com essa mesma dúvida. Uma das críticas mais frequentes tem sido quanto ao didatismo, por outro lado as partes que ficaram mais abertas geraram várias dúvidas que o filme não tem como responder. Em parte eu acho até que faltou didatismo em certos momentos.
Acho que o tom didático em si não é de tão mal, o problema foi a condução. Em pelo menos dois diálogos do filme, eu mesmo sendo espírita me senti muito incomodado com o texto por achar que fugia do "cinema" e se transformava em uma pregação, uma aula. Por outro lado, certas situações no filme não teriam como ser explicadas e por isso sequer deviam ter sido citadas. Por exemplo "te ensino a materializar outra roupa" além de fugir em parte da realidade apresentada no livro, cria dúvidas sobre o processo. Afinal, se todos materializam roupas (a doutrina não afirma isso dessa maneira, foi uma posição do diretor) por quê alguns se vestem com túnicas e outras com roupas contemporâneas ao seu tempo? Obviamente quem vive nos anos 30, e é habituado aquelas roupas "materializará" roupas daquela época e isso explicaria os habitantes da colônia que se vestem com roupas de época, certo? Então por quê André Luiz materializou túnicas como a dos moradores mais antigos se ele era recém chegado?
Mais uma vez, digo que foram erros de condução do diretor. O livro é muito exclarecedor (e didático) e não deixa margens para dúvidas como essas.
Por outro lado concordo que o filme é "espírita e para espíritas". Embora seja vendo como um "filme para todos os credos", acredito que é um argumento usado para tentar não segmentar tanto o seu mercado, talvez uma imposição das distribuidoras. O filme possui várias "piadas internas" como a água da paciência, por exemplo, que são bem comuns entre espíritas, o que mostra que o filme tinha mensagem com alvo certo.
No fim, gostei muito do filme mesmo reconhecendo todas as suas inúmeras falhas, tanto que o vi cinco vezes no cinema. Mas sou completamente suspeito sobre o assunto
porra Rafael, agora me deu vontade de ver o filme...
Ótimo review, Rafael.
Meu pai é espírita e viu o filme e tem várias críticas, tanto quanto as atuações como a condução da trama.
Uma pena que o filme tenha falhas desse tipo, pois seria ótimo para o cinema nacional ter um filme que foge dos clichês já citados (violência urbana, miséria, comédia romântica) ainda mais contando com bons efeitos especiais.
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